
Quando falamos do mundo espiritual e mágico, sobre Deus, Deuses, Orixás, Encantados, Espíritos... e a ação deles em nossas vidas, a gente volta à nossa infância e fica aguardando ações sobrenaturais ou verdadeiros milagres né? A gente percebe isso na conversa das pessoas. Narrativas sobre experiências que não se explicam (muitas são reais) e os olhares curiosos com desconfiança do ouvinte. Todos os dias eu reforço minha teoria de que somos crianças grandes, e que no fundo esperamos que as fantasias da infância sejam verdadeiras.
É bem bonitinho isso, se não nos cegasse para os verdadeiros e sutis milagres dos Deuses. A gente deseja que um raio escreva o nosso nome no céu para sentir-se agraciado, mas não percebe que estamos há mais de 2 anos sem pegar uma gripe, ou que a última vez que os nossos filhos adoeceram foi antes daquele ebó. Não notamos que a nossa vida progrediu. A gente esquece que fez o ebó quando ele cura as dores.
Há exatos 10 anos, completos hoje, eu me consagrei a Oxum no Candomblé. Minha alma era uma mistura de decepção e glória, pois a iniciação tinha sido um banho de água fria em alguns sentidos, mas nada tinha a ver com o Orixá, meu problema era o homem.
Naquele dia, quando recebi o meu ibá de Oxum, eu chorei. Chorei como uma criança sem mãe, que pedia um pouco de colo para acalentar a dor de uma solidão de mais de 10 anos após a morte da minha avó. Chorei, como se eu tivesse parido uma mãe, e agora pudesse ter ela o resto da vida ao meu lado. E há dez anos, sendo derrubada e caindo muitas vezes sozinha eu repito todos os dias: Oxum eu te cultuarei até o meu último dia de vida.
Algumas pessoas já me disseram assim: “Nossa como é forte a sua relação com Oxum”. Aí você sente aquele ar de invejinha despretensiosa da pessoa, de quem na verdade lamenta por não ter isso na própria vida. E lá no fundo, eu tenho vontade de dizer: Construa. Relações com Orixá, são construídas como relações entre pessoas. Você conhece seu pai com 20 anos de idade, você vai amá-lo assim que olhar para ele?
Conversar com Orixá é um hábito de fé. Orixá nunca apareceu em pessoa para me responder nada, mas ele responde sutilmente. Deixo a desconfiança para os Ateus e Agnósticos, apenas mantenho a minha fé. Nunca me senti uma boba por acreditar nos Orixás. Milhões de pessoas acreditam em um filho de Deus encarnado em pessoa. Acreditam que um homem dividiu o mar no meio para atravessar, e que o filho de Deus depois de morto ressussitou 3 dias depois e sumiu. Doido por doido, vamos todos juntos para o Pinel ou qualquer hospital psiquiátrico.
Eu construo essa relação, converso no tempo, no carro, no banheiro, não importa. Eu converso baixinho, em um tom de voz em que eu mesma possa escutar, até mesmo para que o meu Ori também me escute. Quando estou desconfiada se uma pessoa está prestes a me dar o bote, eu peço mesmo a Oxum. Por favor me permita ver quem é fulano de tal. Não passam três dias, e eu vejo uma atitude daquela pessoa em uma situação qualquer, que me faz perceber que é um padrão de comportamento dela. Ponto!!!! Obrigada Orixá.
Eu não permito mais, que ninguém, nenhum sacerdote seja o total responsável pela minha comunicação com Orixá. Sacerdote não vai fazer com que a gente tenha uma maior conexão com o sagrado. Quem faz isso somos nós. Sacerdote é orientador. Portador de alguns conhecimentos que não nascemos para ter, todo o restante, o que é muito, é construído por nós. Essa intimidade com o sagrado, somos nós que devemos ir buscar, e isso, se faz no dia a dia. No dia feliz, no dia triste, no dia que você conseguiu um novo emprego, no dia que você não conseguiu pagar as suas contas, no dia que você viu o pôr do sol mais lindo da sua vida e no dia que um filho está doente.
Obrigada Mãe.
Oxum, senhora cuja os filhos são peixes que nadam rumo a prosperiade.
Ire O
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