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Fê Aguiar - Ifásolá

O Culto aos Orixás tem futuro? Parte II


Vamos voltar um pouco no tempo? Faça um pequeno esforço em sua memória.

Lembre comigo agora, de quando você era criança ou adolescente. A vida já era um grande desafio, você já tinha SONHOS, MEDOS e muita INSEGURANÇA, assim como hoje. Os adultos… bem... os adultos não se importavam com os seus problemas, eles estavam ocupados demais procurando um meio de prover a família de forma árdua e digna. Você ouviu frases como: Você não tem problemas, não tem contas para pagar. Enquanto isso, as inseguranças da vida tomavam conta de nós. Os caminhos errados, esses estavam acessíveis: Piscando em neon vermelho. Muitos de nós optaram pelo caminho da rebeldia, por não saber o que fazer. Outros optaram por caminhos mais fáceis, e sabemos hoje, como adultos, que o mal é sempre mais acessível e muitas vezes sedutor.

O desafio do jovem é tentar integrar a nossa sociedade, ele quer e precisa fazer parte, desvinculado da figura dos pais. E isso me lembra o Orixá Kòri, e quem a cultua, sabe a sua importância e axé. Dentro da nossa religião, qual é o suporte que damos a este momento tão confuso? De forma passamos segurança para essa criança e jovem? Para aqueles que contam com os orixás na adolescência e se agarram a eles, de maneira cega, apenas repetindo o padrão dos pais, o conhecimento mínimo é negado, e encontram, na maioria das vezes, deuses punitivos, justamente num momento em que precisamos de AUTO ESTIMA, EXEMPLO E SEGURANÇA. Essa visão de Deuses punitivos, pode até ter funcionado com alguns de nós, mas com essa geração de agora? Só os afasta. Apenas observe. Fé e medo andam de mão dadas no cristianismo, isso não pertence a nossa filosofia milenar. A base da nossa fé é o bom caráter (ìwá pele) e as atitudes construtivas. Eu, particularmente, não acredito que nenhum orixá seja punitivo. Eles podem nos deixar por nossa conta, de acordo com as nossas atitudes. Mas punir? Jamais. Pra mim, quem nos pune é a nossa consciência.

Agora, ainda imerso em seu passado, me diga: O que aconteceria, quais as oportunidades você não teria deixado passar, se você soubesse que há uma essência divina dentro de você, um pedacinho de Eledunmare (O Criador/Deus), em estado de ignorância, com poderes suficientes para te fazer forte e te mostrar que o medo só existe, porque nós o alimentamos? Se você tivesse tido a oportunidade de conhecer algo, capaz de atrair para a sua vida a oportunidade de reconhecer a beleza e a oportunidade de cada dia?

Talvez você já tenha escutado o provérbio africano que diz:

"Quando não existem inimigos interiores, os inimigos exteriores não conseguem ferir você."

Isso acontece quando aprendemos a cultuar Ori, e simultaneamente entendemos a importância do fortalecimento do ìwá pele (Lê-se: iuá pêlê - bom caráter).

Outra questão muito importante, a ser lembrada, e essa serve para todos nós, é que NENHUM orixá é capaz de abençoar um filho sem que Ori permita. Inclusive é por esse motivo que muitos ebós não funcionam. Porquê a cabeça da pessoa, em um nível consciente ou inconsciente, não a julga merecedora ou simplesmente não quer aquela ajuda de fato.

Vou dar um exemplo rápido sobre o poder de Ori, para ajudar a esclarecer:

Dona Aparecida, costureira há mais de 25 anos, desenvolveu um problema nas mãos e não pode mais costurar. Sua família precisa e a cobra da renda do seu trabalho, mas ela não consegue, pois as dores são fortes. Aparecida vai até a sua Ìyálòrìsá, consulta o merindilogun, que aponta um ebó para Obaluiaiê e outro para Ogum. Com sabedoria e conhecimento de fundamentos o ebó é feito. Só tem um porém: Dona Aparecida está cansada de costurar, está infeliz e se sente muito pressionada pela família e filhos, que já são grandes, ela na verdade, lá dentro da sua cabeça e coração, gostaria apenas de instruir novas costureiras e até mesmo aumentar sua produção e iniciar uma confecção. Pergunta: O ebó vai funcionar? NÃO. Mas porque? Falta de fundamento? Inexperiência da sacerdotisa? Castigo do Orixá? Ogum não vai com a cara dela? Não, nada disso. Não vai funcionar porque o Ori da Dona Aparecida não vai permitir, pois na verdade ela não quer voltar a costurar, ela quer montar uma confecção. Este é apenas um exemplo fictício.

Os Iorubás nos ensinam isso a milhares de anos, a ciência ocidental vem descobrindo a passos de formiga.

Por muitos anos, dentro de nossas casas, só cultuávamos Ori, no ritual do Bori (Dar de comer à cabeça), mas não sabíamos como esse ritual podia ser capaz de nos equilibrar e tornar o nosso destino mais próspero, assim como seres humanos melhores.

Então voltando ao foco do texto:

E se ensinarmos as nossas crianças e jovens desde cedo a importância do ìwá pele?

E se ensinarmos as nossas crianças e jovens desde cedo a importância e o poder de Ori?

E se ensinarmos as nossas crianças e jovens desde cedo que elas fazem parte de uma religião e filosofia, com tanta sabedoria, que é capaz de transformar a vida de cada uma delas em algo próspero? É possível.

E se ensinarmos as nossas crianças e jovens desde cedo a cultuar os Orixás e seus atributos, para que possam com a benção de Ori, ajudar a cada um deles, a vencerem os obstáculos e ajoguns?

E se ensinarmos ao nosso futuro, a sentir e ver Orixá de uma forma diferente das que nos ensinaram? Não estou falando de apostilas, assentamentos e nem de magia ou fundamentos.

Lembra do menino do primeiro texto, que perguntou ao meu Bábà, porque ele não sentia os Orixás?

Eram aproximadamente 16 horas, o sol já começava a ficar ameno. Meu pai olhava atentamente para o menino enquanto fazia a pergunta. Ao terminar, ele deu um pequeno sorriso de canto de boca. Estávamos ao lado de uma grande mangueira, que nos proporciona uma sombra de mais de 100m2. Na mesma hora, o vento soprou um pouco mais forte, as folhas fizeram aquele barulho gostoso de quando o vento as faz chacoalhar e ele voltou a atenção para o menino, que devolveu com outra pergunta:

- Você está sentindo esse vento?

- Sim. Respondeu o menino com um ar de desconfiança.

- Você consegue sentir a terra que está sob os seus pés ou o alimento que vem dela? Você bebe água?

- Sim. Respondeu o menino mais uma vez, e agora mais desconfiado ainda.

- Então, você vê Orixá. Pois Orixá está em todos os lugares onde há vida. Orixá está na energia e na essência do vento, da água, da terra e do fogo. Ele está aqui agora disponível para você. Para senti-lo você não precisa que ninguém o ensine, você precisa se permitir sentir e entender que cada elemento que constitui a vida e o mundo tem uma essência divina, uma energia chamada Orixá.

O rapazinho, baixou os olhos por poucos segundos, prensou o lábios, como quem diz: Se eu não sinto é porque talvez nunca tenha me esforçado ou ainda não tivesse compreendido. Ele levantou o rosto na direção do Bàbá e balançou a cabeça com um sinal positivo.

Precisamos dar suporte aos nossos jovens e crianças AGORA. Antes que os percamos, não para outras religiões, e sim para o mundo ou para a vida, que sempre ensina da maneira mais dolorida. Precisamos encantá-los mostrando apenas como podemos ser abençoados, pelos nossos orixás, e como a nossa filosofia, faz de nós pessoas CAPAZES.

Cada Orixá, tem um atributo a oferecer, a filosofia iorubá tem princípios à ensinar, Ori precisa ser nosso melhor amigo.

Por isso, dentro de alguns dias, o Meu Coração Africano em parceria com um projeto que já funciona em uma casa de orixá, vai oferecer um novo link no menu principal da página, que vai nortear, (sem mexer na sua "panela") orientar e dar ideias para você, Omo Òrìsá ou Bàbá/Ìyálòrisá, começar a trazer as crianças e os jovens para mais perto de nós. Vou usar um termo que está na moda: Vamos "empoderar" essas crianças e adolescentes, vamos mostrar o quão linda é a nossa religião.

Algumas casa já tem, outras não, mas se a sua casa for de Candomblé e houver alguém com o cargo de Iyatojuomo (não sei a acentuação correta desta palavra, desculpe) e ou Otun Iyatojuomo, que são as responsáveis pelas crianças do Axé, você pode indicar a nossa página para que elas possam colocar em prática.

A nossa parceria, que vou dar mais detalhes no futuro link, que vou divulgar aqui quando estiver pronto, vai dar dicas de como começar com o projeto desde o início na sua casa, até dicas de planos de aulas mensais, que você pode adequar a realidade da sua nação. Somos todos cultuadores de Orixá. O grande propósito não é dar louros à ninguém. O grande propósito é garantir que teremos um futuro promissor, com crianças e jovens preparados, que fortalecem o seu caráter diariamente com a ajuda da filosofia iorubana, dos Orixás e de nossos ancestrais. Vamos construir o nosso futuro, vamos dar segurança e orgulho às nossas crianças por terem Orixás em suas vidas. Vamos plantar essa semente.

Também teremos uma lista com nomes de livros disponíveis no mercado brasileiro, para o público infanto juvenil, para que cada casa possa começar a montar uma biblioteca. Por que não? Essa lista foi enviada por uma leitora e agora amiga, que vou divulgar também quando o link estiver pronto.

"Aquele que não cultiva seu campo, morre de fome."

Provérbio africano.

E para terminar, a indicação de um livro. Para quem não teve contato com o culto a Ori, e gostaria de entender um pouco mais:

Orí - A Cabeça Como Divindade

Márcio de Jagun

Editora Litteris

Ire O

Fê Aguiar

Ifásolá

Ps: Aos que receberam a nossa news letter, perdão pelos dois erros de português que cometi. A ansiedade de colocar no ar é tanta, que a gente acaba fazendo bobagem. :(

Imagens - Pinterest sem autoria. Quem souber e puder indicar os artistas, eu agradeço, para que eu possa dar os devidos e merecidos créditos.

Fonte de pesquisas de dados IBGE ou AQUI.

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