Não sei quantas vezes morri nesta vida, perdi as contas. Pra falar a verdade, nunca nem contei. Não sei quantas versões de mim mesma ficaram no passado e nem sei quantas estão por vir. Só tenho certeza de que sempre renasci mais forte.
Quem disse que a semente não sofre pra virar árvore?
Eu e você, a gente tem um probleminha, nos acomodamos fácil e rápido com as situações da vida. Não estou necessariamente falando de trabalho ou da vida financeira, mas sim de tudo. Na relação com os filhos, companheiros, amigos, pais, como cultuadores de Orixá, profissionais, saúde... tudo. Somos naturalmente seres que buscam a comodidade. No entanto a comodidade leva a imobilidade, e ficamos parados no tempo, o oposto do que a vida deve ser. A vida pede dinamismo. E o que é a vida, além de uma caminhada individual em que devemos chegar ao final mais forte do que quando começamos? Se falharmos, acredito que a gente se torna repetente, como na escola, e é lançado para uma nova vida, diga-se de passagem com os mesmos desafios, até “passarmos de ano”. Não estou afirmando que é assim, mas é o que acredito de uma forma um tanto lúdica.
Se prestarmos atenção, de forma racional em toda nossa existência, entenderemos que não seríamos nada, se não fossemos forjados vivos tantas vezes.
Quem você seria se não tivesse passado pelas suas experiências pessoais?
Concordo que algumas dores e perdas deixam marcas irreversíveis, mas como somos todos ignorantes sobre nós mesmos, vai que era necessário e a gente não sabe?
Há uma energia, que não vou dizer o nome agora, dentro do que se acredita na religião iorubá, que é a grande provocadora desses desafios pessoais. Desafios que vão te tirar da sua zona de conforto e te fazer caminhar, nem que seja na base da pancada. Ela é aquela que te coloca de frente com os seus maiores medos. É ela que sabe o tamanho de cada ferida que você carrega na carne e na alma, assim como te obriga a ser mais forte e mais resistente com o passar dos anos.
Para quê?
Para que você alcance seu predestino e não repita de ano.
Agora eu te pergunto, assim como me perguntei: Essa energia é boa ou ruim? O problema é que essa querida energia, as vezes dá uma exagerada na dose, e como se trata de uma energia, ela não tem emoção, ela tem uma missão, que é nos fazer seguir em frente. Estilo Capitão Nascimento: Missão dada é missão cumprida.
Só tem um questão aí, nós somos pura emoção, somos ignorantes e somos donos da nossa própria vida através do livre arbítrio, o que nos faz tomar as decisões mais tolas do planeta diversas vezes. Pois é, o livre arbítrio, assim como tudo no mundo, tem seu lado positivo e negativo. Muitas vezes tomamos decisões que nos colocam na contramão.
E quando isso acontece, a quem culpamos? Deus, Orixá, Jeová, além daqueles que preferem atribuir ao diabo mesmo. A questão é: A fé vai para o beleléu. Quem nunca? Ficamos cansados de sermos submetidos a tantos desafios e começamos a peregrinação dos porquês? A culpa é do Orixá, do Candomblé, da Umbanda, do Culto Tradicional Iorubá e por aí vai. É não sinhô. Né não. O nome disso é VIDA. Religião é apenas a ferramenta que você decidiu levar com você dentro da sua mochila desta caminhada, que vai te auxiliar, te orientar e te fortalecer justamente nesses momentos que vão acontecer, independente da religião que você escolher, os desafios vão chegar e sempre vão existir.
Dentro do Ìsésé Làgbá, no culto aos Orixás, não há promessa de uma vida mais fácil para ninguém, nem para o mais alto sacerdote. Para nós é prometido o ensinamento dos Orixás e dos nossos Ancestrais, este último, são os que vieram antes de nós e já passaram por este mesmo desafio que hoje nos pertence. Para nós é ensinado a cultuar Exú, para que ele traga o Equilíbrio da vida, assim como o de Obatalá e Egbé, para que eles possam nos dar motivos para sorrir. Aprendemos a reconhecer as energias chamadas de Orixá e a identificar qual pode nos auxiliar, quando o caos vem além dos nossos próprios limites. Aqui buscamos sabedoria para viver melhor, não para que a vida seja mais fácil. Foi aqui que decidi continuar morrendo e nascendo, para que eu possa ser a cada dia mais forte, mais determinada e melhor do que eu mesma, pois foi aqui também, onde mora a minha fé, que descobri que quando eu tento ser melhor do que o outro ou me comparo a alguém, estou caminhando em busca da infelicidade.
Ire O Ifásolá
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