Este é um texto editado, que teve a sua publicação no ano de 2016. O título original era: Meu Coração Africano e Minha Alma Àbíkú. Este foi o texto mais lido do MCA, ultrapassando, segundo a análise de tráfego do site, mais de 200 mil leitores únicos, não apenas só no Brasil como no exterior.
Há pouco mais de dois anos retirei esse texto do ar, porque minhas percepções, estudos, ensinamentos e vivências me mostraram que eu tinha recebido alguns ensinamentos equivocados, e como o meu intuito sempre foi informar, acolher e dar esperança as pessoas e jamais prestar um desserviço, era preciso tirá-lo do ar.
Hoje, publico novamente este texto com o mesmo intuito, no entanto editado e com informações mais atualizadas daquilo que aprendi e vivi a mais nos últimos 4 anos.
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Texto editado, originalmente escrito em março de 2016.
A sensação pode ser de deslocamento, de não pertencer ou talvez de estar aqui por engano. Como se você fosse o Super-Homem, sem todos aqueles poderes, mas com toda certeza os seus pais te mandaram para um planeta que não é o seu. Você se sente diferente, sozinho e as vezes até preso em um corpo. Houve dias em que experimentei a péssima sensação de estar presa em mim mesma, a este corpo, e ter a certeza que esta é uma realidade artificial, e que em breve eu iria acordar.
Pode ser também que a sua saúde não seja das melhores, e desde que você nasceu ela insista em não ajudar você a ter uma vida tranquila em Aye (Terra), ou quem sabe você não exista socialmente, é uma mentira suas dezenas ou centenas de amigos sociais por que você não se apega e/ou jamais permite que se apeguem a você. Você é aquele símbolo do não pertence. É como se houvesse uma legião, uma força que te fizesse não amar estar vivo ou estar aqui, e não significa que você queira morrer, mas apenas de que não quer estar.
Sim, eu sei que estar aqui em Aye é uma benção, nem sempre é fácil e talvez muitas pessoas sintam alguma identificação com essas linhas porque a vida é uma montanha russa de emoções, mas também existe a possibilidade de que você tenha um contrato no Orun, um acordo, um pacto, que jamais será descoberto seu teor de forma completa com Egbe Orun (Sociedade do Céu - Comunidade dos Amigos Celestiais).
O Culto Tradicional Yoruba trouxe consigo o culto de alguns Orixás e Sociedades que ainda não eram cultuados no Brasil, ou que podem ter se perdido.
É muito íntimo falar como uma Elegbe, logo eu, que não gosto de falar da minha intimidade de jeito nenhum, muita gente pra julgar, poucos para moderar e tentar compreender as pessoas que pensam diferente. O meu olhar ser diferente do seu não define quem de fato é anormal. Afinal, aprendemos a falar de nós mesmos com superficialidade, para não transformarem informação em arma. Mas essa página tem um propósito muito maior do que a minha vergonha e ou medo. Não quero falar de acontecimentos sobrenaturais, não vou nem entrar nessa questão, quero falar do que pulsa na minha alma e o que me fez muitas vezes chorar atrás de portas e debaixo do chuveiro com uma saudade que doía fisicamente. Chorei com saudades de casa, de uma casa que eu não lembrava de onde era, mas tinha certeza de que existia. Como se tivessem me esquecido aqui ou me abandonado. Olhei muitas vezes para a minha mãe e para o meu pai ao meu lado e não me senti em família. Ligação ou dívidas de outras vidas talvez, mas família? Não, família não.
Me sentia mais em família quando brincava sozinha dentro de uma barraca feita de pano, com uns 5 anos de idade, e uma sombra aparecia para brincar comigo e me fazia rir. Conforme fui crescendo e principalmente depois do meus 7 anos, ela sumiu.
Houve tempos que o meu espírito foi se desconectando aos poucos do meu corpo, dia após dia, e quase virei um zumbi, nada aqui fazia muito sentido. Eu pedi muitas vezes para ir embora, para que alguém viesse me buscar. Por favor, não quero bancar a mórbida, eu apenas queria voltar para a minha casa, e ficar perto dos meus e isso não era possível aqui.
Por vezes, me fiz de surda e disse para mim mesma: Eu vou em frente. Mas eu dava um passo para frente, começava algo novo e quando eu menos esperava tudo dava errado. Como se uma força dissesse: “Ei, seu lugar não é aí! Seu lugar é aqui ao nosso lado. Volta logo para casa.” “Não se apegue a sua vida”.
Sou uma dos vários tipos de Elegbe, que também possuem outros sintomas, que tem sonhos que assombram, que acalentam e que me mostram as vezes o que está chegando por aí. Sou do tipo que tende ao isolamento. Tenho pavor de multidões, não gosto de festas ou encontro sociais, não gosto de falar com pessoas estranhas, não gosto de interagir e muito menos que toquem em mim. Eu me esforço MUITO para ser legal, ou tento né. Por mim eu deixava todas as pessoas no vácuo quando elas falam comigo. Feio né? Mas quase ninguém percebe. Talvez, se você também for um Elegbe possa me entender. Ei!!! não é por mal não, mas é que os animas andam em bando, por afinidade, por essência e eu me perdi na última revoada.
Somos uma Sociedade de amigos espirituais, somos unidos, alguns estão aqui em Aye e outros ficaram em Orun. Nos amamos tanto e somos tão unidos, que quando alguém do bando tem que vir para aye cumprir a missão do seu Orí, a gente nem liga, e fica chamando pra voltar logo para casa. O ouvido não ouve, mas a alma sente. Coisa de doido né? Não, não é não. Louco é tudo aquilo que a gente não conhece, até outro dia era feitiçaria e hoje é tecnologia. É apenas uma realidade diferente da sua.
Conheci Egbe Orun em 2009, ainda com o nome de Muso. A sensação de não pertencer melhorou MUITO, e as pessoas passaram a ser mais aceitáveis para mim. Mas ainda saboto o meu social constantemente. Ainda há oscilações de energia e até me iniciar em Egbé, preciso vez ou outra fazer um ebó para acalmar a minha galera de lá e me acalmar por aqui e reconectar com este mundo.
O culto a Egbé está intimamente relacionado ao culto dos ancestrais. Egbe Orun melhora a forma como a sociedade te vê e como você vê a sociedade, assim como trás a alegria de viver, saúde e prosperidade na vida daqueles que o procuram.
As pessoas que possuem pacto com Egbe Orun precisam cultuar Egbé, para que o seu Egbe tenha um pouco de paciência até o momento de você voltar para o seu lar. Caso faça a sua pesquisa no Google, entenda que não somos portadores da má sorte, nem deficientes espirituais como já dizem por aí.
APÓS A INICIAÇÃO:
Texto novo escrito em maio de 2020.
Aprendi a abraçar! Até gosto de receber e dar abraços. Também passei a convidar pessoas para reuniões em minha casa. Gosto de sair para dançar, mas interagir com estranhos ainda é uma dificuldade.
Continuo com saudades da minha alcatéia, do meu bando, mas não dói mais como antes, o choro é raro mas o peito ainda aperta. Meus pés estão mais fincados no chão, tenho mais autonomia sobre mim mesma. Consegui compreender que nem tudo era Egbe Orun, que também havia a fuga da minha realidade por feridas que nada tinham a ver com Egbe e sim com o meu Orí. São escolhas o tempo inteiro feitas de maneira mais centradas e vista por alguns como egoístas, mas diariamente escolho ser maior do que meus problemas e os meus demônios. Me sinto forte, me sinto apoiada e como se agora houvesse até uma torcida organizada: "Vai !!!!"
De repente a vida começou a ser um desafio que quero conquistar, explorar e saborear. Meu Egbe foi de sabotador para a minha grande força e o meu zelar. Que me avisa quando o perigo está me espreitando e não permite que o escorpião me pegue dormindo. De uma me tornei duzentas. Do vento contra ao vento a favor. O meu Egbé é um grande Egbe. Recebi o nome de Egbekemi – Egbe Cuida de Mim e tenho tanto orgulho do que nos tornamos. A cada vitória, agradeço ao meu Orí em primeiro lugar, mas SEMPRE agradeço a meu Egbe Orun.
Mas você que está me lendo, precisa compreender que se o meu Orí não tivesse optado em vencer, se eu não tivesse aprendido a cultuar Egbe com responsabilidade e regularidade, se eu não tivesse aprendido a me comunicar com eles, se eu não tivesse um assentamento com os elementos corretos, sacralizado da maneira correta e outros “si”, não sei se eu estaria tão certa e plena, mas uma certeza eu tenho: Iniciar só por iniciar, pode inclusive trazer mais malefícios que benefícios.
Depressão, ansiedade, isolamento social e outros vários sintomas não são sempre tratados com Egbe Orun. Você é um indivíduo único, com um Orí único, com uma história e ancestralidades únicas e não pode ser tratado como receita de bolo caseiro. Esses mesmo sintomas podem ser desequilíbrio energéticos relacionados a outras divindades como Obaluaye, Esu, Obatalá, Yemoja, Osun, Ogun e por aí vai.
Não seja enganado por modismo de Egbe Orun, não faça autodiagnostico e nem permita que aventureiros façam.
Cuidado com o que você lê por aí. Estão surgindo especialistas por todos os lados que mal sabem cuidar de si mesmos. Especialistas de apostila e até mesmo brasileiros e nigerianos mercenários vendendo o que não existe.
Caso precise de fato se iniciar ou apenas ter um assentamento de Egbe Orun, certifique-se que o sacerdote lhe dará o suporte necessário para dar continuidade ao tratamento espiritual que começa a partir da iniciação, pois muitos tratam a iniciação como o fim de todos os problemas, e na verdade quem tem pacto com Egbe Orun, é como uma doença crônica que precisa de tratamento o resto da vida. É amor demais hahahahahahaha...
Quer ler mais sobre Egbe Orun?
Aqui vão mais alguns textos links do Meu Coração Africano: - Egbe Orun I - Egbe Orun II - Egbe Orun III
Egbe ooooo Muso Muso Ere oooooooo Akika, Asege
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Ọ̀nà’ re o - (Um bom caminho para você)
Ìyá Ṣọlà Ẹgbẹ́kẹ́mi
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