top of page
Fê Aguiar Ifásolá Sówùnmí

A Confiança em nosso(a) Bàbálòrìsà e/ou Ìyálòrìsà


Tirolerin (September 2012)

Sempre escutei piadas na adolescência quando mencionava que eu tinha um Pai de Santo. A piada vencedora e a mais desagradável, típica de quem não entende o que diz era: "Seu Pai de Santo já ganhou na mega sena?" E já ia emendando: "Se fosse de verdade tinha que adivinhar os números". O que eu respondia? Nada. Mas a pessoa perdia uns 10 pontos comigo e eu começava a ter preguiça dela de imediato. São muito chatas essas situações.

Julgar o sacerdócio de alguém puramente pela prosperidade material, é um grande erro. Mas será que dá para avaliar a seriedade, o compromisso e a eficiência de um sacerdote? Penso que sim.

As pessoas chegam numa casa de Orixá, na grande maioria das vezes pela dor, poucas vão de fato pelo amor, ou seja, os problemas a levaram à um Egbé Òrìsà. Só isso, ou tudo isso, já as faz chegar de forma acuada pela sua própria esperança, a esperança de encontrar, ali, a solução de um problema. Mas todas sabem, até mesmo através da cultura popular, que tem muito sacerdote/sacerdotisa por aí que não está preparado para exercer essa função.

Como saber se aquela pessoa é de fato quem ela diz que é? Eu, particularmente, conheci pessoas com um poder de persuasão tão grande, que eram capazes de fazer qualquer um acreditar em centenas de mentiras e de fazer qualquer um comprar um clipes quebrado. Até aí nenhum grande problema, mas e quando a pessoa não tem caráter? E a gente, os trouxas, caímos na conversinha e somos enganados? Pois é.

Não existe placa de identificação, não tem um estereótipo, uma idade, nada. Não dá para identificar. A posição de sacerdote, de qualquer religião, proporciona muito poder sobre as pessoas. Cheguei a ler uma matéria assustadora, que falava justamente da quantidade de pessoas com psicopatia social, que tornavam-se sacerdotes de várias religiões para justamente explorar um dos lados mais sensíveis e vulneráveis do seres humanos: a fé.

Isso é uma realidade que todos nós, cultuadores de Orixá, sabemos que existe. Só que mesmo assim, muitas pessoas caem na lábia de pessoas despreparadas, que não possuem iwa pele (bom caráter) o tempo todo.

Pensando sobre este assunto, criei uma lista de perguntas para que cada um de nós possa se fazer, em um momento de insegurança quanto a idoneidade e seriedade de um sacerdote.

Vamos lá:

O Bàbálòrìsà/Ìyálòrìsà explora os filhos financeiramente?

Ao responder essa pergunta é preciso usar de bom senso, antes de qualquer coisa. TODA casa tem custos, e não é JUSTO, que as pessoas que ali desfrutam do espaço, não contribuam para que a casa mantenha sua infraestrutura, assim como é impossível que o(a) Sacerdote/Sacerdotisa alimente a todos do seu próprio bolso. Egbé, significa comunidade, e uma comunidade é feita de várias pessoas que se ajudam.

Ebós podem ser cobrados? Na verdade eles precisam ser cobrados, precisa haver a troca, estamos falando de magia, e isso se encontra inclusive dentro do itan de um Odu Ifá.

O preço de um ebó pode ser muito cara? Na minha opinião cobrar R$ 400,00 em um banho é um abuso. Cobrar R$ 5.000,00 em um Bori também é desnecessário. Mas é preciso avaliar todo o material que vai ser gasto, a quantidade de pessoas envolvidas e lembrar que o Sacerdote precisa cobrar o que no afro-brasileiro chamamos de chão.

Agora, Bàbálòrìsà/Ìyálòrìsà que "pede" carro, jóia, viagens, dinheiro emprestado (e não paga), cartão de crédito e favores que você não faria normalmente, CORRA. Isso não existe. É um abuso de poder. Um verdadeiro devoto e cultuador de Orixá não explora e nem se aproveita das pessoas. E acredite, que mais cedo ou mais tarde, o circo vai acabar.

O Bàbálòrìsà/Ìyálòrìsà tem uma boa vida financeira?

Ter posses materiais não chancela o status de sucesso à ninguém. Há pessoas que realmente são felizes vivendo com o mínimo de conforto. Elas simplesmente priorizam outras coisas e isso jamais será errado. Por tanto essa é uma pergunta que deve se observar de uma outra maneira. Por exemplo, se todos sabem que o(a) Sacerdote/Sacerdotisa, está lascadinho da silva, nadando em dívidas e que há um desequilíbrio grande nesse setor, eu te pergunto: Como essa pessoa pode orientar seus filhos? É importante lembrar que casas luxuosas também não são sinônimo de prosperidade. Acredito que isto seja apenas um alerta.

Como é a vida familiar do Bàbálòrìsà/Ìyálòrìsà ?

Dentro da Filosofia Iorubá há dois pilares de grande importância: a ascendência e a descendência, ou seja, os nossos pais e os nossos filhos. Somos cultuadores dos nossos ancestrais, para que possamos aprender com eles e melhorar a nossa própria espécie através de nós mesmos e dos nossos filhos. Ninguém é obrigado a ter filhos, e alguns de nós não teve a sorte de conhecer os pais, o que seria uma exceção. Portanto espera-se de um(a) Bàbálòrìsà/Ìyálòrìsà que ele saiba dar o devido respeito aos seus pais, e que saiba educar com excelência os seus filhos.

Caso ele(a) seja casado(a), ele(a) tem o dever de respeitar sua(eu) companheira(o) e de zelar pela imagem de toda a família, como um dos pilares de sua vida, mesmo que de uma forma reservada e discreta. Família é família.

Se uma pessoa, não respeita seu(ua) companheiro(a), seus pais e seus filhos, ele vai respeitar quem? Fica aí a pergunta para você pensar. Lembre que pai e mãe são sagrados para os Orixás e para Eledumare.

Como é a vida dos filhos de santos da casa?

Pode parecer um tanto estranho, mas acredito que devemos observar na generalidade como é a vidas dos filhos casa, principalmente no setor da saúde e do progresso pessoal individual. Não há uma regra, e jamais haverá uma casa em que 100% dos filhos são só sucesso, afinal de conta somos todos reflexo dos nossos Oris. A questão é que quando há um grande número de pessoas que passam por muitas dificuldades, pode ser que o(a) Sacerdote/Sacerdotisa não saiba, energeticamente e magicamente o que está fazendo, e pode estar manipulando as energias de forma equivocada.

Há algum tipo de relação sexual nos rituais?

Pelo amor de Eledunmare, se a resposta for sim, arrume as suas coisas e vá embora ontem. Não existe nenhum ritual, iniciação, ebó ou seja lá o que for, em que o filho(a) de santo seja obrigado a ter qualquer tipo de relação sexual com o Sacerdote/Sacerdotisa. Dentro de todos os segredos existentes, de todos os Odus, NENHUM, diz que é necessário esse ato. Não há mãos nos seios, nas pernas, ou nas parte íntimas de forma sensualizada. Não apenas saia dessa casa, como denuncie.

É certo fazer Marketing de uma casa ou de um Bàbálòrìsà/Ìyálòrìsà?

Essa também é uma pergunta que deve ser avaliada individualmente e usar de bom senso. Esta página não deixa de ser o que chamamos dentro da Comunicação de Marketing de Conteúdo. O MCA nasceu do meu amor e principalmente dele, e da minha luta, o amor e fé pelo Orixá e a luta para que as pessoas não sejam enganadas. Aqui eu propago e planto pensamentos e ideias, como também vendo produtos de outras pessoas, dentro da Loja do Coração. Aqui eu falo do meu Templo, da minha Matriz e dos Templos da minha família Oduduwa, com o propósito de difundir o nosso aprendizado. Nunca vendi iniciação, magias para qualquer coisa, jogo de búzios ou opele Ifá, Isefá, Itefá, Imule em Ìyá Mi Osoronga e iniciação em Egungun. Nunca. Jamais postamos fotos de rituais pessoais e sagrados para chancelar ou provar nada. Eu, realmente não acredito nisso, e isso só existe na nossa religião, nunca vi Padre e nem Pastor, vendendo batizado, o que a gente vê é a propagação de uma filosofia, e de uma forma de vida. Se houver o interesse em algum ritual, ele deve vir como consequência.

Dentro desse mesmo marketing, não acredito que alguém possa crescer falando mal do outro ou da casa de ninguém. NÃO há hegemonia nos rituais na África, nenhum brasileiro pode afirmar, que, o que alguém está fazendo seja totalmente errado e ainda se promover com discursos vazios através da internet, simplesmente porque é descendente de alguém importante ou esteve/morou na África. Acredito e sei que muitas pessoas concordam comigo, que se é feito dentro dos princípios éticos da religião e funciona, se orixá responde, está certo, fim. Não importa se é de Cuba, Brasil, Benim ou Nigéria. Se Orixá respondeu na vida das pessoas, está certo. Nenhum de nós tem tempo de vida suficiente para entender tudo de Orixá.

Eu, e isso é uma visão particular, só acredito que grandes Sacerdotes não precisam dizer que são, eles simplesmente são. Eles não precisam ficar procurando as pessoas, pois os Orixás levam as pessoas até eles. É errado promover Cursos e vender Apostilas?

Depende. Dar cursos e apostilas com fundamentos sagrados para não iniciados, não é legal, principalmente para a própria pessoa. Mas dar, vender Cursos e Apostilas com conhecimentos que não fazem parte dos segredos, apenas como material para estudo, é muito positivo. Também acredito ser justo cobrar por eles, afinal, quantos anos, quanto tempo investido a pessoa precisou para ser capaz de ministrar um curso ou escrever uma apostila?

Espero que este texto vá de Norte a Sul do nosso país, para esclarecer e fazer as pessoas pensarem.

Se você me der, a licença de te dar apenas um conselho, por favor me leia com atenção. Jamais abra mão do seu tempo de observação, do seu tempo como visita ou como abiã. Esse tempo é precioso, é nele que o Seu Ori, fala com você e te mostra a verdade, é nesse tempo que os Orixás conseguem nos mostrar se estamos de fato no lugar e nas mãos de pessoas que sejam de fato representantes dos Orixás em Àiyé.

Ire O

Ifásolá Sówùnmí

Sówùnmí: Nome do meu Bàbálawo , Awodiran Sówùnmí, sucessor do Bàbáláwo Fábùnmi Sówùnmí. O sobrenome é uma homenagem pelo orgulho de pertencer a esta família.

Imagem: Tirolerin (September 2012)

5.031 visualizações
bottom of page