Por trás de todos os Odù há uma mensagem sobre comportamento que precisa ser refletido por quem consulta o oráculo. Todo Odù ao ser revelado traz um retrato, uma análise do caminho que você percorreu e para onde você está caminhando, se está indo colher bons frutos ou se corre em ritmo acelerado para o precipício.
Há um Odù (Oyeku para alguns Babalawo/Iyanifa no opele/ikin e Ofun no Erindilogun - vou me dirigir a Ofun durante este texto) que fala sobre a vida e a morte, e de como elas fazem parte do mesmo processo. Ofun será o chamado para o amanhã e a necessidade de uma auto-reforma para essa nova etapa.
Cabe bem aqui o exemplo do processo da maternidade, para que você possa mergulhar nessa reflexão comigo. Na primeira gestação de uma mulher, ela caminha durante 38 semanas aproximadamente para a sua própria morte e carrega dentro de si uma nova vida. Aquela mulher tem poucos meses para se preparar para uma nova etapa da sua vida, e deixar de ser aquela que é e que não caberá mais em si. Despedir-se de uma forma de viver a vida e reaprender a viver uma nova realidade, pois sim, vida e morte estão sempre de mãos dadas. Ser mãe é a arte de ver beleza em meio ao caos. Perder-se e encontrar-se, com a probabilidade de possivelmente negar a morte e tentar viver numa vida que já não te cabe mais.
No momento em que o filho nasce, aquela mulher morre e uma mãe nasce. Como uma noite que vira dia.
Portanto Ofun nos ensina a deixar partir, a permitir e nos despedir do passado que já não nos pertence mais. Não existe forma de viver em duas realidades, e quando se tenta... aaah a vida ... ela trata de te apresentar o retrocesso, a decadência e a queda:
Como o homem que não aceita a fase adulta e persiste na adolescência;
Como o ser humano que foge do momento de sair de baixo das asas dos pais;
Como o empregado que persiste num emprego falido que não dá mais frutos;
Como o casamento que acabou e vive na infelicidade;
Como a pessoa que sabe que o seu tempo em qualquer lugar acabou, mas não tem coragem de ir, e viver essa morte, porque tem medo do futuro.
A teimosia também é lembrada neste Odù, justamente quando alguém insiste em viver no passado, usando roupas que não cabem mais, se debatendo como um epilético consciente que se recusa a seguir em frente, que se apega a saia da mãe e diz:
- Mas eu não queeeero!
E a mãe responde friamente, mas internamente despedaçada.
- Você não tem querer.
A teimosia em Ofun é o medo disfarçado, daí a necessidade de um novo olhar, de uma reforma completa e por vezes é necessário demolir e
reconstruir-se.
Ofun fala da necessidade de auto-reforma, pois sem ela não há progresso, não há o novo. Repito: Não é possível viver em duas fases da vida ao mesmo tempo.
Como são sábios os Yorúbà! Não me canso de dizer isso.
E como essa reforma é feita?
Eu indico algumas vezes para alguns(mas) filh@s e clientes a busca de uma ajuda profissional, pois dependendo do otun Odù que acompanha Ofun, pode ser que aquele Orí não tenha força momentaneamente para fazer essa autoavaliação.
Mas caso tenha um Orí que esteja disposto, há muitas técnicas que possibilitam esse momento com você mesmo. Desde uma listagem SINCERA de pontos fortes e fracos, e trabalhar cada um deles, um a um e até um questionário para alguns bons e velhos amigos de como aquela pessoa lhe enxerga. Nada de pedir para gente puxa-saco, eles não ajudam em absolutamente nada. Prepare-se para ouvir o que não te agrada. Tem uma frase que diz: “As vezes tem que doer como nunca, para não doer nunca mais”.
Eu desejo que abracem 2019 como você se despediria de um amigo que sabe que não verá nunca mais. Agradeçam todo o aprendizado que ele trouxe, sejam gratos a todas as revelações, incluindo as desagradáveis, agradeçam as oportunidades, as realizações, os encontros, os novos amigos e as amizades que se fortaleceram e deixem 2019 ir. Leve apenas o que te cabe, se abra para o novo, mesmo que esse novo seja viver com ausência de alguém. Viva esse luto intensamente, mas siga.
Que tenhamos aprendido com 2019, que estejamos prontos para o tempo que continua e novas estações que se repetem, até entender que quem tem que mudar somos nós.
Feliz 2020!
Que todos nós saibamos viver Ofun em Ire, onde novos projetos se aproximam e se concretizam, mas precisamos estar prontos para novas oportunidades. Ressignificar Òrìṣà na vida é ser livre, é voar pelos desafios que SEMPRE existirão, com a certeza de que SE QUISERMOS ser melhores, não estaremos sozinhos. Se você acredita que este texto pode fazer a diferença na vida das pessoas do seu meio: compartilhe! Se você acredita que ele pode fazer a diferença para alguém em específico: encaminhe para essa pessoa! Um coração agradecido é sempre maior. Ọ̀nà’ re o - (Um bom caminho para você) Ìyá Ṣọlà Ẹgbẹ́kemi
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