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Redescobrindo Oxóssi


Reaprender é mais difícil que aprender, pois além de aprender você precisa desconstruir o que você leva consigo como verdade há anos. É preciso desapegar-se do orgulho do saber e dar lugar ao novo para que possamos seguir em frente. Fazer tudo isso sem desvalorizar a nossa própria história. Arrumar as malas para o futuro e despir-se de tudo que foi fruto de um equívoco "do bem", ocasionado pela distância entre dois continentes, que são separados por um enorme oceano.

Oxóssi é um Orixá que após muitos anos de Candomblé, fui descobrir quem ele é a pouco tempo. Eu o via como um Orixá que possivelmente iria perder o culto aos poucos, pois a caça não faz mais parte da nossa rotina, podemos ir ao supermercado e ao açougue, desculpe ser tão seca, mas é verdade. Quem hoje tira da caça o seu sustento?

O Orixá caçador, Alaketu, Rei de Ketu. Isso era tudo o que eu sabia de Oxóssi, o grande patrono dessa nação, que apesar der ser a última a se consagrar no Brasil, é a maior do Candomblé. Orixá da maior personalidade viva do Candomblé, para mim, a grande Yalodê do Brasil, Mãe Stella de Oxóssi - Oxóssi Kayodê (aquele que trás alegrias).

Com todo respeito, eu não via motivos pessoais para cultuar Oxóssi, havia uma distância grande entre nós, pois ele não falava com a minha realidade, com a minha vida e muito menos com o meu dia a dia, até que tive o grande prazer de descobrir quem é este Odé. No Culto, tenho aprendido que de fato, não há Orixás que são mais importantes do que os outros. Se você está vivo e optou por vencer esse desafio chamado vida, todos são importantes.

Para alguns de nós o amor é o que há de mais importante na vida, para outros a saúde, o trabalho, o dinheiro e até a liberdade. Independente de qual seja a minha ou a sua prioridade na vida, somos um relógio "tic tacteando", e o que temos de mais valioso chama-se TEMPO.

Entendi que preciso valorizar meu tempo e não perder tempo com pessoas e situações desnecessárias, relacionamentos decadentes e tudo o que me leva ao caminho oposto do que eu almejo. Na minha vida só deve permanecer o que eu permito. Como diz aquela música dos Titãs : "Só quero saber, do que pode dar certo. Não tenho tempo a perder".

E o que isso tem a ver com Oxóssi?

Se você acha que vou dizer que Oxóssi é o Deus do tempo, errou!

Ele é o Orixá que apoia o homem para que ele aproveite melhor o seu tempo de vida através da CERTEZA.

Oxóssi, O MESTRE DA CAÇA, que vai à floresta com apenas uma flecha e trás comida para todos. Orixá da estratégia, do perfeccionismo e da certeza. O Deus Iorubá que nunca falha e não permite aos seus devotos que eles falhem em suas próprias vidas. Orixá que caminha entre as folhas secas sem fazer barulho, que conhece o momento correto de observar, de silenciar e de agir.

Orixá que nos ensina a conhecer e a superar os nossos próprios limites. Como cultuadores, podemos pedir a ele que nos dê Axé para que possamos desenvolver uma postura nobre em nosso dia a dia, a coragem, o foco, a disciplina, a perseverança para alcançar o perfeccionismo em nossos desafios de vida. Cultuamos Oxóssi para sermos competentes.

Talvez alguém diga que eu sou míope, e que tudo isso já fazia parte do estereótipo de todos os Odés. Tudo bem. Pode ser. De repente este é o meu momento de descobrir, de ver e enxergar ao mesmo tempo, de compreender e aproveitar ao máximo todas as oportunidades que Eledunmare nos concede. Acredito que o momento em que tudo mudou, foi quando eu me conscientizei que eu merecia muito mais. Mais do que simples estereótipos que não me acrescentavam nada para que eu me tornasse um ser humano melhor. Essa vitória mora em mim e na minha postura diante dos desafios diários. Hoje cultuo Deuses em que me espelho, para que eu possa encontrar força vital para vencer os meus próprios limites.

Ire O

Ifasola

Imagem: Fonte: https://m.facebook.com/olhardeumcipo/ Nó álbum "axé em preto e branco" Artista: Roger Cipó

Não tem bibliografia, tem inspiração:

Palestra Bàbá King - Festival dos Caçadores - Oduduwa Templo dos Orixás em 02/04/2016

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