Muitas vezes nos encontramos em situações que parecem fugir ao nosso controle. Situações em que, por mais que a gente se esforce, elas estão lá, não arredam o pé e nos fazem refém de nossas próprias vidas. Quem nunca?
Quando essa situação não está atrelada ao nosso Ori, ou seja, não fomos nós mesmo que a criamos, inconsciente ou conscientemente, recorremos a Ifá e ele dentro de sua sabedoria, indica o ebó.
Finalmente fazemos o ebó e vamos dormir acreditando que no dia seguinte o nosso problema estará resolvido. No dia seguinte nada muda, nem dois dias depois. Uma semana e nada acontece. A essa altura muitos de nós, preenchidos por nosso imediatismo, perdemos a fé no ebó. Se mais uma semana se passar, perderemos a confiança em nosso Bàbálòrisá/Ìyálòrisá, e se mais 15 dias se passarem teremos certeza que Orixá nem sabe que existimos, ou, quem sabe, que ele nem exista mesmo.
Chamamos de ebó, mas o que gostaríamos mesmo era de receber um milagre. Quando o milagre não vem, voltamos para aquele limbo de emoções confusas e conflitantes. Nos prendemos dentro de nós mesmos e nos vitimizamos. A fé se abala e começamos a gerar um moeda de troca sobre o que fazemos e do que abdicamos em nome da nossa casa, em nome do sacerdote(isa) e do Orixá.
É assim que entramos em uma profunda crise e nos perdemos de nós mesmos e de nossos objetivos. Muitas vezes, o problema que originou o ebó, já nem nos preocupa mais. Aquela voz do mal, que só aparece para dificultar as coisas, grita em nossas cabeças, e diz, que somos tão insignificantes, que nem orixá não faz nada por nós, ou dependendo da pessoa, começa a pensar em procurar uma outra religião, que de fato funcione. Como se religião, fosse remédio e estivéssemos mesmo precisando é de um tarja preta.
Aprendi na pele que os ebós agem como uma energia extremamente inteligente. O primeiro lugar que eles agem é na raiz do problema. Aquela que não vemos e muitas vezes nem sabemos que existe. Não importa, queremos a solução imediata. Quando a energia age no elemento gerador, ela também gerará um efeito cadenciado e que muito possivelmente levará um tempo até aparecer aos nossos olhos, olhos de quem fez o ebó. Não importa, queremos a solução imediata. Muitos ebós geram inclusive problemas, na verdade eles trazem para a superfície um problema que já existe e não sabemos. Esse momento é crítico, pois para um ori despreparado, ele pode chegar a conclusão de que o ebó trouxe um malefício ao invés de um benefício.
O que demoramos a entender é que Orixá é milhões de anos luz mais inteligente do que nós, é divino em sua sabedoria e tem uma visão do todo. E quando me refiro ao todo me refiro, do tempo, da nossa predestinação, de todas as vidas envolvidas, de como aquele ebó refletirá no futuro e vou mais além, em nossas próximas gerações.
Certa vez, foi feito um ebó para a saúde de uma pessoa próxima à mim, e descobrimos que ela tinha um distúrbio, que mudou a vida dela para sempre. Na verdade esse problema era raiz de todos os outros problemas, mas a minha reação imediata, eu confesso, foi de profunda tristeza e questionamento. Apenas depois que as nuvens diante dos meus olhos e do meu coração dissiparam, foi que eu pude entender e agradecer, ao Ori da pessoa, ao sacerdote que conduziu o ebó e por fim aos orixás.
Eu tenho aprendido a ter esse olhar aqui no Culto, com a proximidade e o estudo sobre Ifá.
Portanto, não devemos ficar de olho no ebó do vizinho, a grama dele não é mais verde, o mar dele não é mais calmo que o nosso. Vão sempre haver ebós com o efeito tsunami, que são raros, mas que arrastam tudo o que existe pela frente, assim como os ebós gota d'água que fazem jus aquele ditado; "...água mole pedra dura.." Não importa. Com toda certeza a forma como aconteceu ou acontecerá, foi ou será a melhor. Se de fato Ifá indicou, se de fato o ebó foi feito certo, se o seu Ori está de acordo, e se foi feito por uma pessoa com Axé nas mãos. Apenas confie e tenha uma das maiores virtudes perante os olhos de Orunmilá: a paciência.
Adupé