Sabia que esta é a pergunta mais frequente no Google quando falamos de Orixá? Qual é o meu Orixá de cabeça? Vivemos em busca da nossa identidade. Esta é uma caçada solitária, que apenas nós mesmos compreendemos e sabemos a sua importância. Precisamos de algo para nos agarrar, nos fortalecer e que possa nos afirmar quem de fato somos e de preferência de quem é esse sangue que carregamos. A grande pergunta que fazemos é: Quem eu sou? Buscamos um atestado de realeza ou uma garantia de que uma hora as coisas vão dar certo.
Quando eu ainda era criança e na pré-adolescência, antes de confirmarem no jogo, muitas pessoas diziam que eu era de Yemoja, logo depois mudaram para Oyá. Quando foi pra valer mesmo eu fui iniciada no Candomblé para Oxum. Mesmo depois de iniciada ainda existia uma voz dentro de mim me perturbando, além de sonhos enigmáticos que me diziam que faltava algo. Durante um bom tempo, eu enchi a paciência dos meus orientadores, afirmando que por mais que eu amasse Oxum, tinha certeza que tinha algo errado. O meu coração me dizia que eu não era apenas dessa Ìyágbá, pois eu era diferentes das filhas de Oxum que eu conhecia, inclusive das de Opará. Mais uma vez, eu não cabia na embalagem que me deram. Eu sempre gostei de me cuidar, mas sempre detestei salões de beleza. Não gosto de paparicar ninguém, não gosto de falar sobre amenidades da moda e da televisão. Adoro filmes, esportes, musculação, carros e velocidade. Tenho em mim um grande sentimento de empatia (colocar-se no lugar do outro), sou feita de emoção, me importo sinceramente com a felicidade das pessoas , sou uma impulsiva em tratamento e com uma paciência sendo trabalhada dia a dia. Não tenho problema nenhum em entrar em brigas. Assim que você me conhece e põe os olhos em mim, vai perceber que eu tenho uma presença forte, com a cara de poucos amigos, como se eu fosse uma pessoa bem fechada e reservada. Na verdade eu nem percebo, e acredito que seja apenas uma defesa que eu criei. Para as pessoas mais próximas, por exemplo, eu adoro fazer palhaçada.
Cadê Oxum, nesse esteriótipo? Me diga, cadê ?
A verdade é que eu era uma típica filha de Oxum com Ogum, mas essa dúvida me gerou muitos conflitos internos.
Ao ir para o Culto, eu precisei desconstruir o conceito de filha/filho de Orixá. Aprendi que em África há cultuadores e devotos de Orixá. Não existem filhos(as). Mas existem Orixás que são ancestrais de uma pessoa e de famílias, no caso dos Eborás*, que são ancestrais divinizados. Eu continuo afirmando a todos que sou filha de Oxum e Ogum, mas sei que sou uma devota. Quando Obatalá soprou o emí em mim, ele veio carregado do axé de Oxum e Ogum.
Estamos sempre recomeçando e nos reiventando. O Culto Tradicional é um grande exemplo disso em minha vida. Quando eu fui iniciada em Ifá, criei algumas expectativas quanto ao que iria ser revelado. Vou contar duas delas: Que saísse Oxum e Ogum para mim, e que o Bàbálawo me dissesse que eu TINHA obrigatoriamente que tocar atabaque. Uhuuuu!!! :) Criar expectativas, ao meu ver, nunca é bom, mas eu criei assim mesmo.
Quando chegou a minha vez de serem revelados os Orixás e as prescrições de Ifá, o mundo fez um minuto de silêncio. Minha boca ficou seca. Tambores rufaram na minha cabeça e aqueles minutos pareciam uma eternidade. Tinha finalmente chegado a hora! Ansiedade latente. Acho que prendi até a respiração na hora. Eu pensava: Calma! Calma! Respira pelo nariz, solta pela boca...
Imagine a minha cara quando recebi de Ifá os Orixás que eu precisava me iniciar, que no total foram sete, e nenhum deles eram Oxum e Ogum. Atabaque? Ô dó! #surtei! E só não chorei, por que eu fui preparada para essa possibilidade. Nenhuma das minhas expectativas criadas tiveram happy end.
Continuo sendo de Oxum e Ogum?
Sempre!!!
Serei eternamente, cultuadora, devota e filha desses dois Orixás. Eles continuam respondendo em minha vida, como sempre responderam, pois eu os cultuo diariamente. No entanto, eu preciso das energias e atributos que estão ausentes ou insuficientes em mim, para alcançar a minha missão/destino em àiyé, e foi isso que Ifá revelou. Pode ser que eu também precise de Oxum e Ogum para esta missão, mas acredito que eu já tenha deles a essência que irá me apoiar em minha busca.
Então, respondendo ao título do texto, Qual é o seu Orixá dentro do Culto Tradicional?
Cada um de nós nasce com a essência de 1 ou 2 Orixás. Identificá-los é olhar para nós mesmos e enxergar esses atributos que dão destaque à nossa personalidade. Lembrando que isso não nos faz filhos desse(s) Orixá(s), apenas que trazemos esse princípio energético conosco. É possível que um sacerdote também possa identificar essa essência através de uma consulta oracular. No entanto só haverá vinculo entre nós e esse Orixá, se houver culto. Se você se espelhar nos atributos e trouxer para a sua vida o que esse Orixá ensina.
Poder ser que Ifá determine ou não que você se inicie nele. Não importa. Quem constrói essa relação somos nós com o nosso culto e o nosso comportamento. Como a minha Ìyá diz: Não adianta cultuar Oxum e desrespeitar a nossa mãe, como não adianta Cultuar Obatalá e ser um mentiroso, não adianta cultuar Exú e ser intolerante ou cultuar Ogum e desistir na primeira dificuldade. Precisamos ser sempre coerentes.
Ire O