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Yemoja - A motivação de lutar pela vida


Eu morei em Fortaleza, no Ceará, durante alguns anos, na infância e na adolescência. Estudava em um colégio que ficava relativamente perto da praia. Apesar da pouca idade eu já tinha passados por muitos apertos na vida, na época o maior deles era a solidão. Eu tinha acabado de perder a mulher mais importante da minha vida, a minha maior referência. A dor me corroía e me desequilibrava, pois eu não sabia se eu seria capaz de prosseguir sem ela.

As vezes pela manhã, eu matava o primeiro horário de aula e ia andando ver o mar só um pouquinho. O suficiente para olhar o movimento das ondas, sentir o cheiro do mar e perceber o tanto que os meus problemas eram pequenos, por mais que fossem enormes para mim. O barulho das águas me acalmavam. O sol ainda descobrindo o céu, dava um brilho especial nas águas. Meus pulmões se enchiam de ar, minha alma de acalento. Percebi que todas as águas naturais em movimento tem esse efeito sobre mim. Como se ela fosse capaz de moldar meus pensamentos, de me abraçar e me dizer: Vai passar! A vida pode ser boa.

Você sabe encarar as adversidades da vida?

Eu ainda estou aprendendo a aprender.

Encontrei em mim um padrão, que eu não tinha percebido, e acredito que você possa se identificar. Por mais que eu queira que a vida seja dinâmica e me surpreenda com oportunidades, com coisas novas que tenham o poder de fazer meu coração palpitar de alegria, eu não sei o que fazer quando as coisas mudam. Eu já me desespero. Definitivamente os Deuses devem me achar uma pateta.

Tenho a impressão de que acreditamos que felicidade é a estabilidade das coisas. São 365 dias de sol ameno, com uma brisa gostosinha, sombra à disposição, numa temperatura amena de 24C.

Andei conversando com o meu Ori, sabe? A natureza não é assim, por que a vida seria? Meu pai sempre me diz: Se quer entender Orixá, observe a natureza.

Foi assim que eu entendi que a vida vai sim mudar o tempo inteiro. Eu sabendo conviver com as adversidades ou não. Elas vão existir, e não há um ser vivo no mundo que não passe por elas, centenas de vezes na vida.

Quando o outono chega, as folhas precisam, sim, cair. Não adiantaria nada se ela tentasse não passar por isso, pois ela PRECISA. Nem sempre a vida é um esforço, as vezes ela é uma pausa.

A grande questão é a forma como vivemos essa pausa. A gestação de nós mesmo.

Fui buscar qual Orixá pode nos ajudar nesses momentos.

Quando fui ao encontro da resposta, me lembrei de como as águas me acalmavam na adolescência. Que durante muitos meses, quando fui morar sozinha, aos 19 anos, aqui em Brasília, eu ia até a beira no lago Paranoá, sozinha, para ficar olhando o brilho do céu nas águas antes do sol se pôr. Eram esses momentos que me davam motivação de viver. De como a serenidade me invadia e eu me sentia em total equilíbrio para pensar.

Yemoja, Yemanjá, Iemanjá. A Mãe dos filhos peixes, que pariu como um peixe, que teve muitos filhos. Filhos prósperos, que nadam rumo à prosperidade. Filhos com axé. Dizem que Yemoja é mãe de muitos orixás. Que é filha de Olokun, irmã de Olossá (senhora dos lagos) e Aje. Para os Egbá, berço do seu culto, ela é um Orixá funfun. Em África, ela não é a rainha do mar, sendo oceano propriedade do seu pai. Ela acabou se consagrando como a senhora de todas as águas, apesar de ter seu culto em rios, como o Rio Ogun, por isso sua saudação é Òdò Ìyá - Mãe dos Rios. Orixá de seios fartos, que nutriu muitos filhos.

O Culto Iorubá me ensinou que ela é a mãe de todos os Oris, título dado a ela por Eledunmare. Senhora que acalma e equilibra seus filhos através do seu axé. Devotos, que estando em equilíbrio com o seu Ori, encontram o caminho da prosperidade. O início de nós mesmos, o nosso Ori. Yemoja é considerada a senhora da meditação, dos pensamentos positivos. Aquela que equilibra os nossos Oris, para que eles possam caminhar rumo ao nosso pré-destino. Com o nosso Ori equilibrado, podemos e conseguimos receber o axé de todos os Orixás. Grande Mãe Ancestral que nos abençoa com a motivação de lutar pela vida.

À Ela, a minha gratidão. Por ter me amparado tantas vezes, mesmo que eu não soubesse, fazendo com que eu fosse no meu interior, no lugar mais profundo da minha mente, encontrar respostas para seguir em frente.

Fê Aguiar

Ifasola

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