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Por que cultuar a Ancestralidade ?


Ancestralidade parece que é algo tão distante da gente né?

E Egungun?

Vish… parece mais distante ainda. Como eu queria ter o pouco do conhecimento que tenho hoje há 15 anos atrás. Mas tudo bem, antes agora do que nunca, né ? :)

Curioso como se fala pouco dos nossos ancestrais no Brasil. Não me refiro apenas aos nossos antepassados negros, que vieram para o Brasil em navios negreiros. Estou falando dos nossos pais, avós e bisavós. Independente da cor e da origem. Sejam brancos ou amarelos ou negros, sejam europeus, indígenas ou africanos. Estou falando do nosso DNA, do meu e do seu. Do sangue que corre na veia de cada um nós.

Eu queria ter ficado mais tempo com os meus avós e queria ter tido a oportunidade de ter conversado mais com as minhas bisavós, pois ainda as conheci. Também gostaria de ter ouvido mais histórias da minha família, tanto materna quanto paterna. Talvez se eu soubesse um pouco mais, teria evitado muitas coisas, mas como não sei: Cultuo Egungun e Ancestralidade.

Não sei quase nada sobre os meus antepassados, até mesmo a sua real origem, é uma hipótese. Como cultuadora de Orixá, isso é uma vergonha. :(

Aí você me pergunta: Mas para quê você quer saber? Por que isso é tão importante? E eu te respondo: Para saber quem sou e o que carrego dentro de mim. Para conhecer a minha própria história e entender ao que estou dando continuidade, pois eu não sou ponto zero, isso mesmo, eu não sou o start.

Você já se sentiu por vezes, preso a um ciclo infinito? Como se estivesse em looping? Em várias situações eu penso: Mas em que momento eu fiz essa escolha?

Na verdade não fui eu que fiz, EU HERDEI.

Parece conversa de gente doida, mas não é não. Prometo que se você continuar lendo vai começar a olhar a sua própria vida com outros olhos.

Por exemplo:

Você sabe me explicar por que a gente insiste em separar o mundo físico do espiritual?

Separamos o mundo material, que é o que é visível aos olhos, do mundo espiritual e energético, ou seja, do que os olhos humanos não conseguem enxergar. Só que está tudo interligado, tanto em nós quanto no Universo.

Como a gente pode explicar o filho que nunca viu o pai, mas que tem o mesmo gingado ao andar, ou, a filha que tem as mesmas manias da mãe com que jamais conviveu?

Herdamos dos nossos ancestrais coisas de ordem não apenas físicas. Podemos herdar até mesmo o caráter, assim como fatores de ordem social e principalmente emocional.

Sabe os olhos da bisavó que aquela criança herdou? Ele pode ter herdado além dos olhos a história de vida . Pois é.

Esta sou eu ultimamente: Alguém fascinada pela ancestralidade e mergulhada em pensamentos e fatos sobre a minha vida que podem NÃO ter sido iniciados por mim.

Eu só sou, porque foram antes mim.

Nós só somos, porque foram antes de nós.

O primeiro capítulo da história da nossa vida, não foi escrito por nós.

Não estou falando de coisas intangíveis e abstratas, estou falando do nosso presente. Da forma como você e eu encaramos e lidamos com o dinheiro, como se comporta a nossa saúde, como brigamos por aquilo que nos é caro ou como enxergamos o amor. Absolutamente tudo. Somos o resultado de uma equação com muitos X e Y desconhecidos, que estão gravados em cada uma de nossas células.

Isso é só um pouquinho do que é ancestralidade.

Quando você escolhe um parceiro na sua vida, você pode estar repetindo (inconscientemente) ou renegando um padrão que aprendeu com os seus pais.

Quanto que o seu parceiro(a) é parecido com a sua mãe ou com o seu pai? Já parou para pensar sobre isso?

Os seus pais fizeram o mesmo com os pais deles, e os seus avós também. É assim para tudo, são os MODELOS da nossa vida: Profissão, Sucesso, Prosperidade, Amizade, Religião, Relacionamentos, habilidades e até a forma como criamos os nossos filhos. Saúde então, nem se fala. Tudo.

A gente aqui achando que está sendo super original e na verdade podemos estar repetindo uma história de muitas gerações.

Consegue perceber comigo que os iorubás já sabiam disso tudo há milhares de anos através do culto de Egungun? Não tem como não admirá-los.

Este mês de dezembro começou de uma forma especial. Fui para o ritual interno na minha casa matriz de culto a ancestralidade, Egungun, Geledé, Orô e todos os veneráveis que cultamos no Brasil. Um pouco antes de irmos, eu estava conversando com a minha Ìyá, que também é coach, sobre padrões que eu repito e que faço isso involuntariamente. Falávamos sobre um ciclo de comportamento meu, que não reflete o que eu realmente busco para mim. Só que quanto mais eu fujo e renego este ciclo, mais forte ele fica. Tivemos que encerrar a conversa, que ficou para terminar mais tarde e seguimos para o ritual.

Já de noite, Bàbá Egungun saiu vestido. Com uma roupa multicolorida e com detalhes ricos.

E a energia ?

A energia era de alegria. Sim, de alegria. Ele rodopiava e as faixas giravam em sua dança como se criasse ondas de axé. Eu levantei a mão para tocá-lo. Logo eu que já levei uma carreira, como se diz na minha terrinha, de um Egun, sabe lá deus de quem, que eu pensei que ia morrer. Eu morria de medo. Voltando. Pois bem, eu estava tentando tocar para pegar um pouquinho daquele axé. Foi aí que a minha Ìyá foi no meu ouvido e disse: Peça que os ciclos sejam quebrados e que você possa escrever a sua própria história.

Suavemente fechei meus olhos e fiquei ali pensando, pedindo e agradecendo. Curtindo o axé e entrando em conexão com aquela energia linda e tão cheia de mistérios e significados. Significados que possivelmente eu nunca os entenderei por completo, mas que me bastam pela emoção que me transmitem e pela paz que sinto.

Naqueles pequenos minutos, compreendi que esta existência é de fato única. Apenas desta vez teremos este nome, estes pais, marido ou esposa, filhos e amigos. Pelo menos neste formato. Nossa história não vai se repetir, mas alguém irá continuá-la para nós, com honra ou com vergonha. Temos UMA chance de acertar, por nós e por nossos descendentes, pois nossas escolhas hoje, refletirão na vida de pessoas que ainda nem sequer nasceram.

Não sei se eu consegui me expressar da forma correta, mas você compreende o quão a nossa ancestralidade é importante e a deixamos tão distante de nós?

Você conhece tudo que herdou ? Você já parou pra pensar que se você não tomar as rédeas da sua vida, através do autoconhecimento, você poderá ser apenas um capítulo duplicado de um mesmo livro? E fará isso sem nem saber.

Eu não conheço todas as 7 gerações, ou as 254 pessoas que fazem parte de mim, segundo a tradição da minha família de Culto Iorubá. Preciso então me garimpar e refletir sobre todos os padrões de comportamento que tenho, sobre as atitudes que tenho, em cada um dos setores da minha vida. Mesmo que estes padrões não tenham começado em mim, eu posso avaliar um a um e escolher os que eu quero que permaneçam e aqueles que não valem prosseguir.

Ire O

Ifásolá Sówùnmí

Saiba mais sobre a autora AQUI.

Imagem: Benin's Mysterious Voodoo Religion Is Celebrated In Its Annual Festival Foto de Dan Kitwood em Getty Images

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