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Egbé Òrun | Ser Abikú - Parte II de III


Imagem Pinterest.

Vou começar este texto com a história (autorizada) de uma família que conheço de perto.

Esta história foi narrada por uma integrante da família em questão, que hoje pertence ao Isese Lagba, que foi buscar com os mais antigos de sua família como tudo começou.

Há 130 anos, mais ou menos, uma vizinha que acreditava que uma criança de 06 anos não era bem tratada pela família, bateu na porta da avó da criança e pediu para ela seu neto. A avó se recusou e disse que não daria a criança para ela. A vizinha continuou insistindo e a avó negando, até que tiveram uma discussão e a vizinha amaldiçoou a mulher dizendo :

"VOCÊ NÃO VAI CRIAR ESSE NETO E NENHUM OUTRO MENINO."

Logo após essa maldição a morte começou a levar os meninos da família. As famílias dessa época eram grandes, e um outro neto da mulher, deu início as mortes. Dois irmãos brincavam e um deles pegou a espingarda do avô, que deveria estar descarregada e acertou o seu irmão de 6 anos com um tiro que perfurou o estômago e o intestino. Como na época não havia assistência médica como hoje, o menino agonizou durante 1 dia e meio nos braços da mãe, que assistiu tudo sem poder fazer nada até morrer. Transformando a alegria em sofrimento.

Passado um tempo, na geração seguinte, uma das mulheres da família, a bisavó de quem narrou toda a história para mim, teve como primogênita uma mulher e logo em seguida nasceu o menino José. Aos 2 anos, saudável como uma criança normal, um dia amanheceu com muita febre. A febre não conseguiu ser controlada, e em dois dias do início da febre ele faleceu. Transformando a alegria em sofrimento.

Na próxima geração, a avó da pessoa que narrou toda história, que ainda está viva, teve a primeira filha mulher e em seguida teve o segundo filho, Antônio. Com um ano e oito meses Antônio desenvolveu uma espécie de afta na boca. A criança foi para o hospital, mas mesmo assim, nenhuma doença conseguiu ser diagnosticada. A mãe de Antônio, levou em mais de um médico, como nada dava resultado ela fez banhos com folhas, simpatias e tudo que estava ao seu alcance. Ela não tinha muito dinheiro, mas o que ela tinha usou para tentar salvar a vida do filho. A mãe entrou em desespero, gritava e fazia de tudo para salvar seu filho, que só piorava. Em 15 dias a ferida da boca havia se alastrado internamente por todo corpo, chegando ao intestino e aparecendo no ânus do bebê, que veio a falecer nos braços da mãe. A mãe de Antônio, hoje com mais de 85 anos, nunca se recuperou, desenvolvendo alguns transtornos. Transformando a alegria em sofrimento.

Mais uma geração se passou, e agora falamos da mãe de quem me contou toda essa história, pessoa muito querida que conheço há 10 anos. Após uma gestação normal, no dia no nascimento do primogênito, em um hospital público, ao terem dificuldade com nascimento, a equipe médica optou por tentar fazer um parto à fórceps. O ferro perfurou a fronte do bebê, que nasceu vivo, mas morreu com 10 minutos de vida. Transformando a alegria em sofrimento.

Ainda da mesma Mãe, veio o segundo filho, Wellington. Saudável, uma criança tão linda que roubava os olhares na rua, com uma inteligência muito acima da média e olhos muito expressivos. Ao completar 6 anos, a criança que era doce e tranquila passou a ser agressiva com todos, principalmente com a mãe e começou a falar de sua própria morte. Wellington começou a quebrar seus próprios brinquedos dizendo que não ia mais precisar deles. Fazendo um terrorismo psicológico com todos da família. Quando a mãe perguntava por que ele estava quebrando seus brinquedos, ele dizia que não ia poder mais brincar e que ela podia dar todos. Ele passou a dar trabalho dizendo que não queria ir mais para escola, que não queria mais ir para a rua, e continuou quebrando e se desfazendo de tudo que era dele, sempre que podia sempre com a mesma justificativa: Eu não vou poder mais brincar. Aos 6 anos, Wellington já escrevia e fez uma carta para a avó de despedida como se fosse fazer uma viagem. No mesmo dia que ele disse que não queria mais sair, um amigo apareceu na casa dele chamando para brincar na rua. Wellington disse que não queria ir e a Mãe dele chegou a ser grossa com o coleguinha, afirmando que o filho não iria. Foi aí que o Wellington olhou para a mãe dele, com um sorriso de canto de boca e disse: Mãe eu vou brincar e vai ser só um pouquinho. A mãe ainda disse que ele não ia, e ao sair andando e chegando ao portão, uma caçamba perdeu a direção e o acertou esmagando toda a parte inferior do menino contra o portão. Após o acidente ele foi para o hospital com graves ferimentos ficando 28 dias internados e causando muita dor e sofrimento a todos da família, ao entrar em coma, Wellington não resistiu e voltou para o orun. Transformando a alegria em sofrimento.

Passado mais uma geração, a mulher teve a primeira filha, mas ela tinha o sonho, de ter um menino. Ela engravidou e no início da gravidez estava tudo bem, até que em uma ecografia no 4º mês, após sentir fortes dores, o médico identificou uma má formação do feto, que era um menino. O feto tinha apenas a metade da cabeça, a metade do coração e sem nenhuma estrutura óssea. No entanto a feto, respondia bem aos exames de batimentos cardíacos, apesar da forma, ele estava muito vivo. Os médicos aconselharam a indução do aborto, pois não havia nenhuma chance de sobrevivência.

Passou alguns poucos anos e a mesma mãe teve outros filhos e há cerca de 7 anos ficou grávida novamente de um outro menino. Uma gestação e um parto perfeito, mas quando o Caio completou 1 mês de idade, começaram as doenças, que mobilizaram toda a família e daí em diante todos sempre com muito medo e terror de perder mais um menino, para a maldição da família. Ao ir crescendo, com 1 ano e meio de idade, Caio quando não estava doente, era pego tentando se matar. Chegou a ser pego com um cabo elétrico enrolado no pescoço fazendo força e já roxo. Na mesma idade, quando ele ouvia alguém dizendo que iria sair, ele entrava debaixo do carro. Aos 3 anos de idade, Caio começa a se despedir das pessoas falando coisas sem sentido, pede um saco vazio para separar os brinquedos que ele disse que não ia mais brincar. Três dias depois de pedir o saco vazio, Caio vai para o hospital e entra em coma com uma infecção, no mesmo dia do ano em que o tio dele havia falecido há anos. Uma das médicas disse à tia de Caio que o acompanhava: “Se você acredita em Deus, tem uma capela ali do lado”. Nesta época Caio já frequentava com sua mãe o Ilê, e após todo o trabalho junto à Egbé Orun, Caio saiu do hospital no fim de setembro. Em dezembro do mesmo ano, Caio iniciou-se em Orunmilá, que indicou com urgência a iniciação em Egbé. Caio recebeu prescrições de Ifá e de Egbé, ambas disseram que ele jamais poderia deixar de cultuar Egbé. O Babalawo entregou a mãe muitas interdições vindas do odù dele e disse à mãe que o maior desafio para ela, era manter o filho vivo.

Esta é a história de UM Abiku em uma família, que se iniciou por uma briga seguida por uma maldição. Hoje graças ao Isese Lagba, ao Babalorisa de minha casa, do Babalawo, do Baba Egbe e de toda uma equipe trabalhando juntas, foi possível tratar esse Abiku e mudar o rumo da história.

Abiku é um dos temas mais complexos para se falar no Brasil, pois já existem muitas e muitas lendas urbanas e enganos. Onde Abiku foi generalizado para todos as tristezas da vida de uma pessoa.

Há alguns anos conheci Egbé, com o nome de Muso, é assim que em algumas regiões as pessoas se referem a Sociedade/Companheiros do Orun.

Em pouco tempo, me disseram que eu era Abiku. Na época ainda estava no Candomblé e me lembro perfeitamente do homem dizendo ao meu pai a seguinte frase:

“Quase todas as mazelas pessoais são provocadas pelos espíritos dos Abiku.”

Esta afirmação é um grande equívoco.

Foi a partir dessa frase que criei em minha cabeça o diabo Yorùbá. Todas as bobagens, erros, negatividade e fraquezas que vinham de mim, passaram a ser culpa de Abiku. Ter a figura de um culpado é ótimo para quem não quer assumir suas responsabilidades, além de atribuir a Abiku todos os acontecimentos sem explicações lógicas.

Quase 10 anos depois, estou aqui escrevendo para o Meu Coração Africano, o trabalho não remunerado mais bem pago do mundo, depois de muita pesquisa, muitas entrevistas, muuuuuuitas traduções, muitas conversas com Sacerdotes Yorùbá e Iniciados em Egbé de Osogbo, Ile Ifé, Sango Ota, Oyo, Ibadan, Lagos e Abeokuta, tenho segurança para escrever sobre Abiku, e como eu disse na primeira parte desta série de textos, posso afirmar que eu não sou e nunca fui Abiku.

Se vamos olhar para a vida e os seus aspectos negativos de uma ótica Yorùbá, precisamos falar antes de Elénìní.

A grande parte dos problemas que enfrentamos na vida são oriundos de nós mesmos. A nossa essência não é pura e o nome de toda essa sujeira que existe dentro de nós, segundo os Yorùbás, mora em nossa cabeça e chama-se Elénìní.

Elénìní está presente em vários versos de Ifá, e é chamado de "divindade" dos Obstáculos e dos Infortúnios por muitos autores, no enredo dos ese Ifá, o personagem do verso só consegue êxito após vencer Elénìní . Ao observar e na tentativa de interpretar o que é Elénìní em cada um desses versos, podemos chamá-lo de Chefe de todos os nossos inimigos internos. Que transforma toda a negatividade existente dentro de nós em algo concreto em nossas vidas. Elénìní está na mesma categoria que os Ajoguns (morte, doença, desgraça, perdas…) para o povo Yorùbá, e é por isso que se fala tão pouco a respeito.

Elénìní tem força o suficiente para crescer dentro de nós e tomar as rédeas de nossas vidas. Ele é alimentado através das nossas atitudes e pensamentos. Ações que desequilibram o mundo, como a mentira (inclusive para nós mesmos), a maldade, a discórdia, as manipulações, roubos e TUDO que vive em nossa sombra e negamos fortalece a divindade dos Obstáculos. Há sacerdotes que dizem que a única maneira de se combater Elénìní é através do culto a Ori e do cultivo do Iwa rere (bom carácter), e há aqueles que afirmam que através de ebó. Eu voto em Ori e Iwa Rere.

Portanto, afirmar que todas as mazelas que acontecem em nossas vidas são provenientes de Abiku, é ignorar a existência de Elénìní, assim como ignorar as diferenças entre ser um Elegbe e ser Abiku. É ignorar os problemas que já nascem conosco da nossa Ancestralidade Feminina e/ou Masculina, é ignorar a crença que os Yorùbás tem em vidas anteriores que estão registradas em nosso Ori e Eledá, e que podem trazer profundas marcas individuais.

Uma das grandes diferenças da Filosofia e Religião Yorùbá, é reconhecer que na imensidão de quem somos, somos seres únicos. Com uma única digital, com uma única voz, com uma única íris do olho. Por isso não podemos tratar um Ori com receita pronta, não podemos tratar Egbé como uma receita pronta, não podemos tratar Orunmilá (para quem fez o Itefá) como receita. Essas divindades estão ligadas aos nossos destinos, ao nosso passado, a nossa história e são elas que nos fazem: Únicos e com necessidades diferentes.

Vamos voltar para Abiku.

Em Oyeku meji, Orunmilá encontra crianças que corriam de um lado para outro sem nenhuma direção específica, quando ele estava vindo de Orun no caminho de Aiye. Orunmilá perguntou onde aquelas crianças estavam indo e elas responderam que estavam indo para o mercado Toku-Toku, e quando Orunmilá perguntou à elas quando elas voltariam, elas responderam que bem cedo, logo pela manhã, antes mesmo dos vendedores do mercado comerem fubá. Orunmila então declarou que ele não poderia ir com elas, porque elas eram todas Emere.

SE FOR MUITO SENSÍVEL NÃO LEIA A PARTE EM AZUL

Há 03 anos, minha colega de trabalho Liana* (nome fictício), nascida em berço de ouro, com uma família equilibrada emocionalmente, formada por advogados, arquitetos e jornalistas, sentava ao meu lado no trabalho, ficou grávida do Bruninho. Liana é evangélica e naquele momento estava visivelmente insatisfeita com a gravidez. Com o passar dos meses, descobri que um dos motivos da falta de apego a gravidez, era a insatisfação do pai do Bruninho em ser pai novamente, ele além de evangélico, é filho de pastor. Ele já tinha um filho de um namoro antigo, que a única relação com a criança era a pensão alimentícia. No dia que a Liana me contou a postura do marido, muita coisa passou a fazer sentido.

Liana foi se apegar ao Bruninho por volta dos 6 meses da gravidez, se alimentava pensando nela e no neném. Reformou a casa em que morava, construindo mais um quarto, estava mega empolgada para comprar o enxoval, mas ainda tinha alguma coisa que a incomodava e apenas de vez em quando ela dava pistas da ausência e indiferença do marido com o filho.

Liana uma mulher linda, seu marido tão bonito quanto ela, Bruninho nasceu ainda mais lindo que os dois. Enquanto Liana publicava nas redes sociais fotos do filho quase que diariamente, o pai publicou uma.

Dois meses do nascimento do Bruninho, meu telefone toca às 6h15 da manhã, eu já estava de pé, quando soube que o pai do Bruninho deixou ele cair do colo, colocando ele para dormir, uma queda tão forte que afundou a cabeçinha dele. Bruninho estava morto.

Me arrumei toda de branco, coloquei um eleke no pescoço e fui para o cemitério no horário do sepultamento, pois não há velório para bebês. Quando a Liana saiu do carro, ela me procurou com os olhos, foi até mim e ficamos ali abraçadas por alguns minutos chorando. A dor dela, era minha dor também. E só uma mãe sabe o que é esse sentimento, pois quando morre um filho, todas as mães perdem um pedaço de si.

Ela ficou ao lado da mãe dela, fraca e sem força nas pernas. Durante as orações e pregações desmaiou duas vezes. Meus olhos procuravam pelo pai incessantemente. Pensei comigo que de repente pelo sentimento de culpa ele podia não ter conseguido ir. De repente, no meio das pessoas eu o vejo sentado na terra, ao lado do buraco do pequeno caixão, na terra vermelha de Brasília, com as calças todas sujas e um olhar catatônico.

No final do sepultamento, ele sentou num banco de concreto do cemitério, encostou os cotovelos na perna enquanto segurava a cabeça que pendia para a frente. Me agachei na frente dele e chamei pelo seu nome, quando ele ergueu a cabeça para me olhar, eu conheci naquele dia o estrago que um Abiku pode fazer na alma de alguém.

Dizem que os olhos são o espelho d’alma. Eu olhei para os olhos dele, não havia mais vida, parecia que não havia mais uma alma ali, alguém tinha tirado a alma daquele homem e eu só via DOR e DESGRAÇA. A pele dele tinha cor de morte, um tom amarelado com nuances roxas. Ele me olhou dentro dos olhos, mas não tinha ninguém ali. Ele não tinha voz, ele não reconhecia as pessoas, ele na verdade tinha morrido junto com o Bruninho.

Para os Yorùbás, aiyé é o grande mercado. Onde as pessoas vão para buscar/comprar/trocar coisas que necessitam e logo depois, elas voltam para a sua casa com o que precisavam. Portanto o que chamamos de morte para alguns, pode ser chamado de voltar para casa para outros.

Esta é uma observação que se faz pertinente, quando nós que aqui vivemos, falamos com pesar da morte de alguém que morreu com idade avançada e que fez todas as suas compras e voltou para a sua casa.

Eu que não quero morar para sempre no mercado… rs.

Para os Yorùbá ter uma vida produtiva é ter uma vida longa (Ire Àìkú), deixar descendentes e ter a sorte de ter bons filhos (Ire omo), ter a sorte de ter uma boa esposa (Ire aya), como eu não sou obrigada a me render ao paternalismo no caso das mulheres, a sorte de ter um bom marido também, o que seria ire oko e a colheita de um resultado financeiro positivo, diante do trabalho (Ire owo).

Portanto a tristeza que o Abiku trás é pelo fato dele quebrar o ciclo natural da nossa perspectiva de nossa existência. Os filhos estão preparados para ver a morte dos pais, os pais jamais estão preparados para ver a morte de um filho. Lembrando que Abiku também pode marcar a sua chegada em aiye com a morte da mãe ou do pai.

Abiku é algo que de fato traz medo para as família Yorùbá, por que o Abiku, se não identificado a tempo, trás sofrimento e tristeza para o núcleo familiar. Isso NÃO significa que um Abiku não é ou pode ser amado por sua família.

Ser Abiku não é trazer tristeza para si, ser Abiku é trazer tristeza para as pessoas que estão ao seu redor e consequentemente para si. Há Abikus que nem ao menos percebem o tsunami que causam na família.

Existem alguns traços primários que marcam a presença dos Abiku:

- A Mãe/Pai/Parentes passam a dedicar quase todo o seu tempo para o Abiku, seja por saúde ou por um comportamento difícil, mas sempre no intuito de mantê-lo vivo e/ou longe do perigo.

  • É comum a família perder todos os seus bens com a chegada de um Abiku, em grande parte das vezes em função do gasto com médicos.

  • Doenças consecutivas desde o nascimento

  • A morte da mãe ou do pai perto do dia, ou no próprio dia do nascimento

  • Envolvimento/vício com drogas que colocam em risco a vida

  • Abortos naturais consecutivos

  • Morrer antes dos pais

Alguns Abiku podem também além desses traços primários, terem dificuldade em se socializar, depressão, síndrome do pânico, transtorno bipolar, dificuldade com a família em que nasceu, se sentir como um alienígena na terra e isso tudo junto. No entanto se a pessoa possui todas essas características e não possui um dos traços primários acima, a origem do problema dela dificilmente será Abiku.

Muitos não compreendem essa natureza do Abiku, e os rotulam como seres espirituais do mal, ou aqueles que nascem apenas para causar tristeza e dor nas famílias onde nascem.

Os Abiku são de fato pessoas que a ligação espiritual delas é muito mais forte com o seu par espiritual, por isso a grande confusão com relação a Egbé Orun, pois são traços que de fato são similares aos Elegbé. Tanto Elegbe quanto Abiku fazem uma promessa/pacto ainda no orun com o seu Egbe, onde está inserido o Enikeji (Se você não sabe o que é Enikeji, leia a PARTE I desta série composta por 3 partes).

Saber diferenciar os pactos de um Abiku e um Elegbe é crucial, vou dar alguns exemplos.

  • Ter marido ou esposa no Orun é um pacto típico de um Elegbe e não de um Abiku.

  • Não ter conseguir fincar raízes, pacto de Elegbe.

  • Não conseguir ter filhos, também é um pacto de um Elegbe e mais uma vez relativo a esposa/marido espiritual.

  • Morrer no dia do próprio casamento, também é um pacto com oko/aya orun, ou seja, Elegbe. Pois nesse caso é a cobrança de um pacto que foi rompido sem ser "negociado".

  • Não construir nada de próspero em sua vida, também é Elegbé, pois o acordo é para que o Araye (corpo na terra), não sinta prazeres na vida em aiye, mais do que em orun.

  • Morrer ao ver pela primeira vez o rosto de sua mãe, pacto de Abiku

  • Morrer ao completar 7 dias de vida, pacto de Abiku

  • Morrer no nascimento de um novo irmão, pacto Abiku

  • Morrer ao começar a andar ou perto de um aniversário antes dos 7 anos, pacto com Abiku.

  • Mãe que morre no parto, pacto de Abiku.

  • Não permitir que a mãe/ou o pai tenham paz na vida, normalmente Abiku.

A questão é, sempre é necessário consultar um sacerdote, que de fato entenda sobre Egbé antes de um "diagnóstico".

Se auto-diagnosticar Abiku ou até mesmo Elegbe é um grande erro, pois como já foi escrito aqui, não há receitas, somos únicos no meio dessa multidão de pessoas, e o problema pode ser outro totalmente na contra-mão. Portanto, esqueça essa onda brasileira do "Abikuísmo".

Algo que é crucial sempre lembrar, e que é até o momento foi unânime entre todos os Sacerdotes com que conversei é que Abiku não faz parte de Egbé Orun. Abiku compõe o que alguns sacerdotes chamam de Egbé Emere.

Há uma definição escrita pela Sandra Epega, que para mim é perfeita:

“ Os Abiku carregam consigo, por causa de seu constante morrer/renascer, o peso de Iku, a morte, e são seres divididos entre a vontade de ficar na Terra com suas famílias e o desejo e a obrigação de retornar ao Egbe Òrun.”

Há famílias que são marcadas pela presença de Abikú e há alguns sacerdotes e estudiosos que afirmam que os Abiku entram em uma família por vários motivos: Uma reação a uma ação/atitude errada (as vezes de algum ancestral), através de maldições/pragas ou pelo fato de uma mulher grávida passear durante a madrugada e passar por lugares impróprios, onde segundo eles, podem morar os “espíritos dos Abiku”, o bom e velho conhecido de todos nós o ACASO.

Os antigos contam que um Abiku irá retornar para mesma família até 4 vezes e há quem diga 7 ou mais vezes, a quantidade de vezes suficiente para deixar aquela família aos trapos. A grande questão é que os sacerdotes ensinam que um Abiku ao ser desmascarado, o sacerdote deve marcar o Abiku em aiyé com uma marca "X", ao chegar em Orun novamente ele não será mais aceito em seu grupo. E caso isso aconteça, ele não terá mais a necessidade em nascer e morrer rapidamente.

No próximo texto, que será publicado em duas semanas, vamos terminar essa série de textos, falando sobre as comunidades dentro de Egbé Orun e os chefes dos Egbé. Se você acha que este texto fará diferença na vida das pessoas do seu meio compartilhe, se acha que fará diferença para alguém em específico encaminhe para essa pessoa.

PARA LER A PARTE 01 DESTA SÉRIE DE 3 TEXTOS -> CLIQUE AQUI.

Ọ̀nà’ re o - (Um bom caminho para você)

IfáṢọlà Ṣówùnmí - Fernângeli Aguiar

**Toda experiência citada neste texto são pessoais e não se trata de uma verdade absoluta perante a diversidade do culto dos Orixás seja brasileira ou africana.

Fontes orais, escritas e bibliografia:

Babalorisa Fernando Ifaseun Sowunmi - Brasil/ Abeokuta

Babalawo Ifarombi Sowunmi - Abeokuta

Ìyá Egbé Oladide - Abeokuta

Bàbá Awodele Sowunmi (Zarcel) - Brasil/ Abeokuta

Bàbá Nathan Lugo - Chief Aikulola Iwindara - Porto Rico/ Florida/ Muitas cidades de Yorubaland

Babalorisa Babatunde Iyanda Olayiwola Olosun - Osogbo

Babalawo Obanifa - Ijero Ekiti

Babalawo Ifadare Olajide - Sango Ota Yorùbá Culture - Livro:A Philosophical Account - Kólá Abimbolá

Ayò Salami - Livro: The Heavenly Mates of Very Humans Practical Ifa: S. Solagbade Papoola - Vol 3

Sandra Medeiros Epega- ​ÀBÍKÚ - 2009 Practitioner's Handbook for the Ifa Professional Chief FAMA - (FAMA Aina Adewale-Somadhi)

Vários ese Ifá - S. Solagbade Papoola

The Ifá Concept of Divination and The Process of Interpreting Odu - Awo Falokun Fatunmbi

A Sociedade Egbe òrun dos abikü, as criancas nascem para morrer varias vezes *

Pierre Verger - Universidade Federal da Bahia

Ogbanje/abiku and cultural conceptualizations of psychopathology in Nigeria - SUNDAY T. C. ILECHUKWU

Imagens Pinterest - Fotos de autor desconhecido, caso o conheça por favor enviar contato para que eu possa dar os devidos créditos.

Observação: As acentuações do Iorubá deste texto estão em sua maioria ausente.

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