Algum dia de 2017. Faltavam 40 minutos para acabar o dia de trabalho. Manú, tinha tido mais um dia de muita pressão, com a exigência para a alta produtividade e muitos prazos para serem cumpridos. Sentada na frente do computador em uma baia que dividia com mais 5 colegas, numa sala de 100 pessoas de uma grande empresa conhecida em seu segmento, nada demais naquele dia, de repente, o corpo dela chamou atenção e ela parou para entender o que estava acontecendo e começou a se observar. O coração tinha disparado como se ela estivesse correndo em alta velocidade, mas ela estava apenas de frente ao computador parada olhando para uma tela. Logo em seguida suas mãos começaram a ficar dormentes, principalmente as pontas dos dedos, uma sensação de desmaio veio com força... Ela virou para o colega do lado e disse:
_ Minha carteirinha do plano de saúde está na carteira o telefone do meu marido está salvo como Mozão no celular.
_ Tá doida Manu? O que você está sentindo?
_ Não sei... mas acho que vou desmaiar.
_ Para com isso Manu... deve ser uma queda de pressão. Come sal....
A sensação do desmaio não passava, mas o medo de morrer ali, naquele trabalho a tomou por completo. Quem cuidaria dos seus filhos? E todos os projetos inacabados? O medo de morrer era forte, descontrolado e certo.... Ela se levantou e foi até o banheiro tentando disfarçar. Olhou no espelho para ver se as pupilas estavam dilatadas, mas não estavam e o ar começou a faltar, o coração acelerou ainda mais ... e ela saiu do banheiro correndo gritando sem nenhum pudor ou vergonha, num local com mais de 100 pessoas:
-Por favor, alguém me ajuda, me leva no hospital, que eu VOU MORRER!
-Tá de brincadeira Manú? (Como ela sempre gostava de brincar... as pessoas acharam que era brincadeira)
O ar começou a ficar mais rarefeito e ela começou a ter depressão respiratória, as mãos tremiam e com os dedos totalmente dormentes, ela tinha certeza que iria desmaiar, mas o desmaio não vinha, o que era ainda mais desesperador. Quando perceberam que não era brincadeira, chamaram a brigada do prédio, levaram um copo com água e tiraram a pressão arterial. Um pouquinho de nada acima da média, mas.... tudo normal na medida do possível. Vinte minutos depois do início dos sintomas, ela já estava bem. Todos falaram para ela procurar um médico e fazer um checkup.
Ela não fez.
Três semanas depois, Manú foi para academia pela manhã bem cedinho e estava correndo na esteira, quando a dificuldade de respirar voltou de uma forma tão abrupta, que ela desequilibrou na esteira e apertou o botão vermelho. Ela olhou para o lado e para outro e pensou que ali ninguém iria socorrê-la e ela iria morrer ali mesmo. Ela ia morrer na academia, até o destaque na internet para a morte por ataque cardíaco já estava pronto na cabeça dela. Ela correu para o banheiro e foi olhar seus olhos...coração acelerado, mãos frias e dormentes, dificuldade para respirar e dessa vez a cabeça também estava dormente. Se sentou num banco dentro do banheiro e chorou com medo da morte que era real em sua cabeça, pegou ar e se levantou. Assim mesmo, pegou a chave do carro e foi dirigindo até em casa chorando e se tremendo, fazendo força para os dedos se manterem firmes no volante pois estavam falhando, pedindo a Esu que permitisse à ela pelo menos chegar em casa. Quando chegou, apenas chorava e chorava de medo de pânico e de sentir aqueles sintomas mais uma vez. Ela pediu para o marido a levar no pronto-socorro, pois tinha certeza que estava tendo um ataque cardíaco. O caminho foi um inferno.... era real o que estava acontecendo? Ela estava louca?
Ao chegar no hospital Manú fez um escândalo digno de novela gritando:
- Socorro!!! Alguém me ajuda por favor, eu estou morrendo. Ela não parava de gritar dizendo que precisava viver e que estava com muito medo de morrer e que sabia que estava morrendo... Fez uma série de exames, incluindo cardíaco e outros... pequenas alterações.
Do pronto-socorro, no mesmo dia, a Manú foi encaminhada para um psiquiatra, quando ele disse:
- Você já sabe o que você tem?
- Eu vou morrer Doutor? – Foi a única coisa que ela conseguiu responder já chorando.
Foi aí que ele disse:
- O Pânico é a doença das pessoas fortes que não reconhecem seus próprios limites. Seu corpo está reagindo.
A Manu não tinha entendido exatamente o que aquele homem estava dizendo, mas fazia muito sentido na cabeça dela. Ela não queria que os seus filhos a vissem naquele estado deplorável do que mais parecia loucura aos olhos do leigo. O doutor passou dois remédios para ela, entre eles um ansiolítico e um remédio para ajudar a dormir. Sem resistência, ela aceitou. Ela só queria viver em paz e sem medo.
Foram alguns meses administrando os efeitos colaterais dos remédios e depois de 6 meses, ela ainda não podia assistir filme ou ler nada que gerasse uma mínima ansiedade, que as mãos ficavam dormentes, a cabeça.... os pés. Ela não contou à ninguém. Ela apenas conversava com os Orisa dela e com Ifá, pedindo para que ela tivesse vida longa. Ela não queria aumentar a dose do remédio e tinha dito ao psiquiatra. Ele não aprovava, e dizia: Você prefere sofrer? Muitas vezes passava 20, 30 minutos na cabine do banheiro esperando os sintomas passar, entre eles uma pequena paralisia facial que deformava momentaneamente o rosto.
As crises voltaram em um certo momento ainda mais forte, mesmo com os remédios e elas foram tomando proporções maiores. O medo de sair de casa, o medo de viajar da Manu, foram impedindo ela de viver e de sair de casa. A cada dia ela ia ficando mais isolada. Até que um dia em casa sozinha ela ficou em estado total de paralisia de todo o corpo em choque, a boca começou a entortar e ela ficou alí parada por mais de 40 minutos, apenas respirando lentamente, lutando contra a certeza da morte, da loucura iminente e pedindo para Ifá livrá-la da morte e permitir que ela criasse seus filhos. Chorava sem conseguir se mexer, chorava de medo, chorava sozinha em casa e com medo dos filhos a verem naquele estado tão deprimente. Ela pediu muita misericórdia a Ori, Ifá e todos os Orisa.
Praticamente ninguém sabia o que estava acontecendo, apenas pessoas chaves; a chefe da Manú, o marido e os pais, mas todos sem muitos detalhes. Ela não queria olhar de pena, não queria olhar de piedade e muito menos que a vissem como fraca. Doença que não se pode ver, ninguém entende, é sinal de fragilidade, e uma coisa que a vida da Manu tinha ensinado, é que na lei da vida e da sobrevivência, os perdedores são aqueles que mostram seus pontos fracos primeiro.
Em um osé Ifá, bem cedinho num dia do sopro de vida, a Manú foi ler novamente todas as prescrições de Ifá diante do igba e dentre todos os conselhos, ewós e prescrições, lá estava a seguinte frase:
“Precisa se iniciar em Obatalá para acalmar a cabeça”
A frase ficou parada diante dos seus olhos e mente, e ela agradeceu a Ifá pelo possível sinal, com esperanças curvou-se diante de Ifá/Orunmilá, Obatalá, Osun e de Esu.
Quase dois anos depois de ter sido diagnosticada com Síndrome do Pânico, das mais ferozes que um bom corpo de médico tinha presenciado, lá estava eu, Ifásolà, em um avião, indo para a Nigéria sozinha, me iniciar em Obatalá para buscar a minha cura.
Quem sabia das minhas REAIS intenções em viajar para Nigéria? No máximo 5 pessoas.
No avião, eu tive uma das crise mais violentas de todas, fiquei quase 2 horas paralisada, sem movimentos, com a boca totalmente torta sem conseguir mexer, mãos tortas, pernas sem movimentos, com lágrimas que pulavam dos meus olhos, da força que eu fiz para lutar contra aquele medo, que por muitas vezes, parecia ser muito maior do que eu... a crise foi tão intensa, que confundiram a crise de pânico com um AVC. Eu só pensava: Estou indo buscar a minha cura e Obatalá vai me curar.
Sou contra a divulgação de fotos de processos litúrgicos, mas se eu pudesse mostraria ao mundo todo a felicidade que foi me tornar Efungbemi, o nome que Obatalá me deu, a felicidade que foi nadar dentro de mim mesma e da minha cabeça e dar ADEUS a algo que estava sempre à espreita de me fazer sentir fraca, vulnerável... o que não sou.
Eu Iya Ifasola Sowunmi fui abençoada com um sopro de efun em minha vida, com luz na minha escuridão, e hoje pouco mais de 90 dias depois da minha iniciação, estou sem nenhuma crise mais de ansiedade ou pânico, sem remédios e curada. Voltei a ter uma vida normal e com saúde. A calma mora em mim... como jamais pensei ser possível diante de uma mente sempre tão agitada. Quem me curou?
Quem me curou foi a sabedoria de Ifá/Orunmilá, pois sem ele eu não saberia qual seria a minha cura real, mesmo com mais de 30 anos vivendo Orisa, e obviamente o meu amado Obatalá, o mais carinhoso de todos os pais. Sou grata a Ifá por me revelar o caminho, grata a eternamente a Obatalá por me acolher e me abençoar, e a todos os Orisa, por sempre terem me feito forte, sem nunca ter endurecido ou amargado o meu coração, tão africano, tão cheio de alma e multicor. Obatalá é alegria! Eu tenho certeza.
Eu estou curada. No meu caso foi através do àse de Obatalá, para outras pessoas com a mesma doença, pode ser através de Egbé Orun, Egungun, Yemoja, Osun, Ogun, Sango... cada Ori contém um universo de mistério. Sorte a minha de ter tido Ifá para me orientar, a minha ancestralidade para me apoiar, Obatalá para me curar e por ter tido uma excelente Iyalorisa, Babalorisa e um Babalawo que me acolheram juntos, que me ensinam, que me reconhecem como portadora de àse, todos juntos, que acreditam no que eu prego de corpo, alma e entrega.
Àse, Àse, Àse ooooooooo
Nenhum sacerdote(isa) é super herói, trabalhei com publicidade e marketing por mais de 17 anos, sei bem o que é construir uma imagem, o problema é que ela não dura. Somos todos humanos, e ser ser humano é ter defeitos e ter que vencer desafios diariamente como qualquer outro. Confie naqueles que mostram quem são e não nos que vendem imagens impecáveis.
A diferença de um(a) sacerdote(isa) na vida é vencer os desafios com o apoio dos Òrìsà, com sabedoria, conhecimento, força, coragem e de mãos dadas com a espiritualidade. Também temos desafios individuais, íntimos, assim como todas as pessoas.
Quem me conhece pessoalmente sabe que não faço tipo e não tenho nenhum medo em expor que sou de carne e osso. O que eu tenho de especial em mim, é a minha devoção, a minha dedicação, o meu amor, compromisso com o melhor que posso ter e oferecer, a minha fé e crença. Portanto me expor aqui é apenas mais um ato meu de mostrar o quão Òrìsà é maravilhoso na vida dos seres humanos. Todos os Orisa.
Ọ̀nà’ re o - (Um bom caminho para você) Ìyálòrìṣà IfáṢọlà Ẹgbẹ́kemi Ṣówùnmí Se você acredita que este texto pode fazer a diferença na vida das pessoas do seu meio: compartilhe! Dê essa esperança a alguém. Se você acredita que ele pode fazer a diferença para alguém em específico: encaminhe para essa pessoa!