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A Origem do Sofrimento na Terra - Iyami Eleiye


Imagem original http://highlike.org/ana-teresa-barboza-19/

Há um tempo eu disse que não pretendia escrever sobre Elas, mudei de ideia. Se prepare para um texto longo. Não leia agora se estiver com pressa ou sem paciência, leia mais tarde, mas leia com atenção. É importante para você, é importante para os seus descendentes. Boa leitura Era tarde da noite e ela não conseguia dormir. Seu corpo estava exausto, mas a sua mente precisava de respostas. Todos na casa dormiam e ela esperava que a resposta viesse do silêncio da madrugada, como aconteceu inúmeras vezes. Momento em que os corpos dormem e os Oris vagam pelo mundo que não conhecemos, eles passeiam em labirintos com o cheiro de guardado do inconsciente e por tons escuros do subconsciente, mas ambos rodopiam e ganham voz em formas de sonhos. Pra ela não, era apenas mais uma noite em claro.

Apagou todas as luzes, sentou-se na varanda e começou a contar as estrelas sem usar os dedos, para não correr o risco de ganhar uma verruga. Enquanto o vento trazia o cheiro forte de chuva e fazia o coqueiro e o bambuzal balançarem, em uma dança frenética sem compasso. O vento parou de repente e com ele o tempo cessou. Foram apenas centésimos de segundos, para que um grito fino, longo, estridente e agudo invadisse a paz do momento em meio as estrelas que tentava contar… Que os pássaros da noite não pousem sobre as nossas casas.

O conhecimento Yorúbà é cheio de labirintos, muitos deles bifurcados que não levam a lugar nenhum, duas respostas para uma mesma pergunta e ambas certas, às vezes como se fosse um jogo de tabuleiro, daqueles que se você tirar a carta errada, ela pode te fazer voltar ao início. Alguns se perdem na solidão, no crer que são escolhidos, na sede de poder e os demais que seguem com humildade, esses continuam a trilhar passo a passo, sabendo que não há vida suficiente em um único ser humano, para saber tudo. Sábios são aqueles que formam famílias espirituais, que somam conhecimento e unificam vidas adjacentes e compreendem, de fato, saindo da teoria, que sozinhos podemos ir mais rápido, mas juntos (com pessoas com o mesmo objetivo) podemos ir muito mais longe.

O que vou escrever hoje não está escrito em lugar nenhum (acredito eu), é baseado em conclusões PESSOAIS sobre um sistema religioso rico, profundo e perigoso. Portanto convido você, que está lendo este texto, a pensar nesta possibilidade, e não de acatá-la como verdade. Convido apenas a pensar.

Vou começar com um Itan, este SIM já divulgados por muitos na internet.

De forma bem resumida, em um dos vários itan da criação do homem em Àyé, especificamente no Odù Osa meji, conta-se que quando as Grandes Mães (Ìyámi) vieram ao mundo (há versões diferentes deste mito) e encontraram os seres humanos manipulando uns aos outros, pagando o bem com o mal, traindo seus próprios amigos, matando os seus semelhantes e até seus próprios pais e filhos, sendo ingratos com os que lhe deram um prato de comida e um abrigo ou usando a gratidão para escravizar, enganando aos que tinham bom coração e boa fé, vendo a vaidade e o orgulho vencer o amor em busca do poder, roubando os que lhe deram abrigo, brigando pela verdade que não existe, mentindo para os seus próprios filhos, estuprando crianças, desvalorizando a terra que os alimentava... Elas ficaram encolerizadas, e assim permaneceram até hoje, nesse dia Elas voltaram para o Orun. Elas então voltaram para onde Eledumare vivia, e disseram que para Aye Elas não voltariam, pois Elas viam que a criação de Olodumare, os seres humanos, que também eram seus filhos, eram ingratos e estavam condenando sua própria existência, uns aos outros ao próprio sofrimento através de suas ações. Eledumare, pediu à Elas que voltassem, e deu as Iyami a missão de EQUILIBRAR Àyé. Deu à Elas a missão de PUNIR e JULGAR. Elas eram as Grandes Mães geradoras, e estariam encubidas por Eledumare de julgar aqueles que comprometessem o equilíbrio de aye através de suas ações.

As grandes Mães então, aceitaram a incubência do Criador e criaram todos os Ajogun existentes em àyé e todas as formas de SOFRIMENTO. As doenças A morte prematura A maldição A desgraça A perda A miséria A tragédia As pragas Os acidentes Veja aqui uma parte desse verso já traduzida: O ser humano é o responsável Pelo seu próprio erro com as Ìyámi As Ìyámi não fizeram nada de mal para as pessoas Foram esses os motivos que apareceram para as Ìyámi Elas ajudaram os seres humanos Quando eles vieram do Orun para o Aye As Ìyámi e os seres humanos fizeram um juramento Esse juramento foi feito na encruzilhada que une orun e aye

Eles disseram no juramento Nesse mundo visível para onde estamos indo Nós não devemos fazer maldades.

. . . As Ìyámi falaram Nós não fizemos o juramento com vocês, para que vocês matassem pessoas Se vocês ficarem sobre a Terra e nos traírem Vocês serão entregues a própria Terra Sobre a qual juraram Foi o ser humano quem traiu as Iyami Foi o ser humano que matou primeiro um dos filhos de Iyami O caso foi levado a Eledumare Ìyámi contou sua versão O ser humano contou a dele Eledumare interrogou "Vocês, seres humanos, por que fizeram isso? "Os culpados são vocês, seres humanos" Eledumare deu às Iyami o poder para marcar os homens Eledumare deu à Elas o Àse de ver tudo o que se passa na Terra Com este Àse deu o poder de envenenar a vida dos seres humanos porque eles a traíram Eledumare disse, as Ìyámi são superiores aos seres humanos, e podem fazer com eles o que bem entenderem.

E é assim até hoje. Todos aqueles que em suas ações sem caráter (ìwà) provocam o desequilíbrio, pagarão com a ira das Grandes Mães. Quão maior a traição, maior a consequência e os filhos também pagarão por esses erros. Há quem use Esu, para guerrear e causar. Esu atenderá? Sim. Essa pessoa está protegida por Esu? Não. Esu cobrará no futuro o preço diante das Leis do Universo, nem Esu é maior que a Lei do Retorno, (Que aqui pensando comigo talvez tenha sido Ele mesmo quem criou). NINGUÉM está isento, ninguém.. nenhum Arabá, nenhum Rei, nenhum Oba ou Presidente.

Das piores dores de uma Mãe, é a dor de precisar punir os seus próprios filhos e a de vê-los sendo punidos. Escrevo isso como mãe que sou. Não há outro caminho para a cura senão pela dor do aprendizado, essa forma, que é muitas vezes incompreendida. Ninguém aprende a ser melhor através da felicidade. Você já parou para pensar nisso? Repito isso tanto… Nós só aprendemos através do sofrimento e é nessa lição, podemos ser reprovados.

O mundo é circular e linear, realidades que se contrapõem e se equilibram num movimento perfeito de ação e reação, de causa e consequência. Todos os dias cometemos erros e acertos, que são exatamente as nossas ações que gerarão reações. Essas reações não necessariamente chegam amanhã, ou depois… na verdade não se sabe quando elas chegarão. Cada ação é como uma semente, cada uma no seu tempo. E aos bondosos e puros de plantão compreendam que a regra do Universo é clara: Uma boa ação, não anula uma errada.

Seria ótimo, sim seria… se apenas nós mesmos pagássemos pelos nossos erros e por nossas escolhas. Assim seria fácil, mas não é assim que funciona.

Em alguns Oriki, Adura de Esu e de Iyami, há um desfecho que chama atenção para a dinâmica de aye, veja:

Esu/Iyami ma se mi omo elomiran ni o se

Tradução:

Esu/Iyami não me faça mal. Faça mal ao filho do outro.

Os ajoguns estão nas mãos de Esu e Iyami.

Muito pior do que viver a dor, é ver a dor em nossos filhos e nas pessoas que amamos. (Obviamente essa dor não atinge os psicopatas que não conseguem amar ninguém além deles mesmos, pois ser um deles já é a sua própria dor). A nossa própria dor, conseguimos carregar e muitas vezes suportar. Mas é na dor de um filho e de quem amamos que nos sentimos incapazes, inúteis, perdidos e incompetentes. É nesta lógica que elas não poupam crianças ou mulheres grávidas.

Quando cometemos erros que encolerizam as grandes mães, ações que desequilibram o Universo, não estamos apenas trazendo as consequências para nós e sim para os nossos descendentes, já falei isso em outros textos.

É muito, muito comum em minhas consultas com o erindilogun me deparar com problemas de ordem de saúde, espiritual, material e emocional, que não foram geradas pela pessoa que está ali na minha frente consultando, e sim pelos seus pais, pelos avós… e assim por diante. Pessoas muitas vezes desorientadas que não compreendem a origem de suas dores, que não compreendem onde erraram e nem ao menos que erro cometeram. Dependendo da gravidade da ação de origem, as consequências se arrastam de geração em geração, dilacerando famílias inteiras. Há consequências tão graves que podem acabar com uma família inteira. Como? Ninguém da família consegue ter filhos para gerar descendentes mais e aquela família finda. Não conheci ainda dentro do Culto Tradicional Yoruba (Onde se encontram em perfeita sincronia: Esu, Orunmila/Ifá, Iyami, Egbe Orun, Egungun, Osun, Sango, Oyá, Ogun, Obatalá, Olokun, Aje, Yemoja, Osoosi, Erinle e todos os Orisa) um problema que não tivesse uma resposta trazida com lógica e sabedoria.

Assim vão se unindo peças desse jogo chamado VIVER, algumas chaves de compreensão sobre a vida abrem caminhos em nosso Ori para honrar a nossa existência, e vamos aprendendo que:

  • Quase todo sofrimento humano tem origem em ações do próprio ser humano e somos nós humanos que causamos o desequilíbrio em àyé.

  • A lei do retorno atinge a nossa descendência

  • Os problemas que temos hoje, podem ser a colheita de uma ação/atitude de muitos anos atrás

  • As reações não têm prazo nem data para acontecer.

  • Você será testado.

… após o grito agudo que invadiu aquele momento de contar estrelas, rasgando a noite, surge uma epifania recheada de sentimentos que com certeza gerarão novas noites em claro. Mas tudo é gratificante quando se tem a base da sabedoria milenar Yoruba.

Importante:

Neste texto, 50% do que está escrito aqui, foram baseados na prática e na observação, em padrões de consulta através do erindilogun, que vão criando estatísticas particulares de fenômenos individuais. Quantos de nós jura e não cumpre? Quantos de nós não dá valor a sua própria voz? Quantos de nós decepciona quem nos ama, da maneira mais egocentrada sem pensar nas consequência de uma maneira vil e covarde e só consegue enxergar o seu próprio umbigo. Muitas pessoas na internet acreditam que eu sou um doce, EU NÃO SOU. Nunca vendi essa imagem. Sou amorosa, educada, teimosa, fico com a cara emburrada, sou palhaça… mas doce não sou. Então apenas não estranhe as próximas palavras: Aqueles que precisam apaziguar as Grandes Mães NÃO têm super poderes. Parem de acreditar em fantasias de filmes, em clube das bruxas e no Harry Potter. Para aqueles que de fato conhecem quem são as Ìyámi é motivo de piada. Ìyámi é o nosso compromisso de conduta, honra, verdade e acima de tudo CARÁTER. Do contrário, elas pousarão em qualquer telhado. Caso se tenha boa conduta elas terão bons olhos para você. Ressignificar Òrìṣà na vida é ser livre, é voar pelos desafios que SEMPRE existirão, com a certeza de que SE QUISERMOS ser melhores, não estaremos sozinhos. Se você acredita que este texto pode fazer a diferença na vida das pessoas do seu meio: compartilhe! Se você acredita que ele pode fazer a diferença para alguém em específico: encaminhe para essa pessoa! Um coração agradecido é sempre maior. Ọ̀nà’ re o - (Um bom caminho para você) Ìyá Ṣọlà Ẹgbẹ́kemi

Fontes: Imagem - http://highlike.org/ana-teresa-barboza-19/ Odù Osa - Sixteen Cowries - Bascom


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