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Fernângeli Aguiar

Como e Por que Ibejí se tornou Òrìsà?


Há tempos escrevo uma frase que parece que não é compreendida pelos leitores com a profundidade que ela exige, mas hoje vou trazer ela com uma maior intensidade pois preciso que vocês levem ela muito à sério para que possam de fato aprender quem é IBEJÍ.


Nos tempos antigos, onde não havia tanta influência do Cristianismo, Judaísmo ou Islamismo, a religião era o reflexo de uma cultura. Apenas quando a religião se transforma num sistema de poder e é imposta até mesmo pelas leis, é que ela passa a influenciar a cultura.


Antigamente,

Não era a religião que conduzia os hábitos da cultura de um povo.

Eram os hábitos de um povo que concebiam uma religião.


Não há como compreender os Òrìsà sem conhecer os hábitos, a história e a cultura do povo Yorùbá. Sem conhecer o básico você apenas criará uma outra religião, baseada nas suas crenças pessoais e expectativas que foram geradas em você pela sua própria cultura local.

A vida é um milagre Um continente marginalizado ao mundo, que sempre foi explorado por ter muitas riquezas no seu solo, que recebeu só restos do colonizador. Um lugar em que a medicina era feita pelos curandeiros. Se ainda hoje, a Nigéria não tem energia elétrica disponível em muitas cidades, água encanada e esgoto, como deveria ser há centenas de anos? No último século, aqui no Brasil, a expectativa de vida saltou de 33 para 77 anos de idade. Ainda hoje na Nigéria a expectativa de vida é de 54 anos, possui uma taxa de mortalidade infantil de 108 óbitos a cada mil nascidos vivos, há 50 anos eram 265 óbitos para cada mil nascidos e para fechar, 8 a cada 100 mulheres morrem, nos dias de hoje, durante a gravidez ou no parto.

A mulher que engravidava sabia que estava correndo riscos, assim como seu filho.

El@s venceram a morte!


Então diante de todas essas circunstâncias e de uma probabilidade baixíssima de vida, tanto para os filhos quanto para as mães, a vida de ambos após o parto era considerada algo sobrenatural e um ato de bruxaria e bençãos das Ajé (As Grandes Mães Feiticeiras).


Nessa época remota o nascimento de gêmeos ou múltiplos era julgado existir apenas no mundo animal e não pertencente à vida humana. Mãe e filhos eram vistos como anomalias, sobrenaturais e como pactuados com as temíveis Grandes Feiticeiras.

Na cultura Yorùbá são elas, as temíveis Ajé que controlam a morte prematura, as doenças, os acidentes, as catástrofes, a miséria, a discórdia, as maldições e todos os negativos que causam sofrimento aos humanos.


Quem é essa mãe e essas crianças que venceram a morte? Devíamos ter cuidado com elas? Elas tinham super poderes? Elas eram um mau agouro?


A ignorância, dessa época tão remota, e o temor, sacrificou muitas mães e muitas crianças.


Quando tudo mudou?


O Alaafin de Oyo e o Fim do Sacrifício


Durante o Império de Oyo, o Alaafin ditava todas as regras do povo Yorùbá. Conta-se, ou seja, pode ser lenda ou não, que o Alaafin estava fora com o seu exército em uma batalha para conquistar mais terras e uma de suas esposas havia dado à luz a gêmeos. Sua esposa escondeu-se com seus filhos no interior do palácio, com medo da reação do povo e o medo de ser sacrificada juntamente com os seus filhos Taiwo e Kehinde.


Algumas bibliografias, representam o Alaafin como o próprio Sàngó e contam que a mãe dos gêmeos foi Osun, outras dizem que foi Ajaka. Quando o Alaafin chegou em seu palácio e encontrou sua esposa com seus filhos gêmeos, ele declarou uma nova lei, válida para todo o povo Yorùbá.


O Alaafin disse que ao contrário do que todos pensavam, ter filhos gêmeos ou múltiplos não era uma maldição e sim uma bênção. Que as mães e os filhos eram tão abençoados que as Grandes Feiticeiras na verdade tinham bons olhos para eles e por isso Elas haviam lhes livrado dos pássaros da noite, que matava sem usar armas. O Alaafin proclamou que matar a mãe e os filhos seria uma afronta à Sàngó, assim como desafiar as Ajé. Ele também declarou que a mãe dos gêmeos deveria ir a cada 5 dias, enquanto seus filhos eram pequenos, dançar na rua, e todos aqueles que à vissem dançar deveriam lhe fazer ofertas de dinheiro e comida, pois a força e a prosperidade dos Ibejí (Nasceram dois) que vinha de Sàngó e das Ajé Orun, chegaria para aquela pessoa e para toda a sua família.


O nascimento de Taiwo e Kehinde transformou a morte em vida, os gêmeos traziam prosperidade, eles traziam bênçãos, eles espalham todos os Ire por onde eles passam.


Foi o Alaafin/Sàngó que transformou os Ibejí em Òrìsà, e é por isso que em alguns lugares Ibejí é Òrìsà e em outros não.


Se você não sair da sua bolha, você não vai conseguir compreender a riqueza cultural dessa história. É por isso que os Ibejí são considerados grandes feiticeiros, assim como sua mãe, eles eram abençoados com os bons olhos das Grandes Mães. Em Breve:


- O Culto de Ibejí

- Ibejí, Egbé Orun e Abiku

- A ligação entre os Gêmeos


De onde vem as oferendas de doces, a chupeta, os brinquedos e tudo mais? Você vai descobrir comigo na próxima publicação no blog do Meu Coração Africano.

Contato para consultas com Eerindilogun (búzios) e workshops + 55 13 99687 1985

Meu melhor abraço. Iya Ifasola Egbekemi.


** Vale lembrar que Yorubaland é vasta de famílias cultuadoras de Orisa e as história variam de um lugar para o outro, não dando a ninguém o poder sobre a verdade absoluta.




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