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Pegue a sua água, seu café ou seu suco e vamos aprender um pouco mais. Este texto é quase um capítulo todo de um livro, mas o aprendizado e o esclarecimento valem a pena.
Vem comigo.
Dizem, e eu acredito, que as pessoas fazem psicologia para si, para encontrar as suas próprias respostas e depois para ajudar os outros a buscarem as suas curas. Muitos dos textos do MCA, não todos, são curas pessoais, são processos e movimentos da vida que passaram ou ainda se passam, por vezes minhas e outras vezes de pessoas próximas. São sagas e buscas para o que, ocidentalmente, compreendemos como felicidade.
Este texto não tem como objetivo dizer o que é certo ou errado, mas como sempre, trazer com muito respeito, outras perspectivas e esclarecimentos de visões diferentes sobre um mesmo ponto de luz.
Já pincelei este assunto várias vezes de forma resumida em outros textos, mas neste irei explicar de uma forma que será fácil você compreender e não criar ainda mais dúvidas.
Entre as muitas diferenças do culto afro descendente e o Esin Orisa Ibile/ Isese Lagba/ Culto Tradicional Yoruba, existe a crença no Brasil - não conheço a crença em outros países - de que uma pessoa tem um Orisa que chama-se Eleda ou pai e mãe de cabeça. Vamos andarilhar… Antes de continuar vamos apenas fazer uma pausa para traduzir o que é Ẹlẹ́dá (Lê-se Élédá) - Ẹlẹ́dá - O Meu Criador. Para muitos Yorúbà este é um termo referente a Orí e não para o Orisa que a pessoa foi iniciada. Assim como - Ẹlẹ́dá wa - seria Eledumare, o Criador de todos nós ou um título também usado para Obatalá por ter criado os nossos corpos.
Sim, é mágico, é reconfortante à alma termos um Orisa que nos é dito como o Orisa que rege as nossas vidas, que vive dentro de nós, como se fosse de fato a nossa grande fortaleza. O Orisa que cuida de nós, que nos fortalece, nos protege e que nos ampara em momentos difíceis. A vida é muitas vezes solitária, nós seres humanos precisamos de algo/alguém que de alguma forma cuide conosco de nossas esperanças, de nossos sonhos e quereres de maneira divina. Essa crença faz parte da beleza da nossa fé em Orisa. Vamos começar pela raiz e buscar a compreensão de todo esse cenário:
O método de consulta ao erindilogun (búzios) em terras Yorúbà possui uma grande variedade, esta é a primeira informação que você precisa compreender. Mais uma vez o certo e o errado não existem aqui, pois até mesmo a sequência dos 16 Odu pode mudar entre famílias e cidades, mas o que é uma constante até agora em meus estudos e ensinamentos obtidos em terras yorúbà é que os 4 últimos odu não são interpretáveis.
Muitos Olorisa - termo usado tanto para homens ou mulheres que são sacerdotes de Orisa - do culto afro descendente consultam o erindilogun através da intuição, o que não existe em terras Yoruba. A intuição não pode ser ignorada, digamos assim, mas Orisa fala através dos Odù e não da intuição. A intuição é falha muitas vezes, pois sofre ruídos e interferências da mente e se limita ao conhecimento da pessoa. É importante dizer que as crianças de famílias tradicionais yorúbà começam a estudar o erindilogun, ou seja, os odù, muito cedo, em algumas famílias com 8 anos. Dentro da fé brasileira estabeleceu-se os estereótipos dos filhos de Orisa, até mesmo pessoas que não são cultuadoras de Orisa e pertencem a outras religiões, querem saber qual é o Orisa delas, como se fosse um signo ou uma espécie de folclore. Esses estereótipos construídos de forma assente não existem em Yorubaland, por mais que seja possível notar comportamentos e algumas atitudes de alguns devotos, não há um rótulo.
A questão é que 8 a cada 10 pessoas que procuram sacerdotes(isas) da Religião Tradicional para fazer uma consulta, querem saber ou confirmar o "Orisa de Cabeça" ou "Pai e Mãe de cabeça", e na maioria das vezes saem frustrados, pois podemos revelar um Orisa Primordial e não um Orisa de cabeça, como se conhece no Brasil.
Outra prática comum feita atualmente por brasileiros é ir para a Nigéria se iniciar (novamente) no Orisa que foi iniciado no Brasil, para buscar uma espécie de pedigree, sem antes sequer fazer uma consulta para saber se de fato essa iniciação se faz necessária para a vida e o Orí da pessoa. LEIA ESSA PARTE COM ATENÇÃO - Algo que muitos sabem, mas que não se fala a respeito, é o fato de que se você busca e chega até um Yorúbà (uma boa parte deles) e diz por exemplo: Quero me iniciar em Obaluaye ou qualquer outro Orisa e você pagar por isso, eles vão fazer a iniciação para você e não se importam se isso vai ser bom ou não para na sua vida, justamente porque a responsabilidade é sua e não dele. Diferentemente de você solicitar uma consulta, seja por qualquer método, e perguntar se há algum Orisa que existe a necessidade em você se iniciar.
Já ouvi algumas vezes deles: "Your wish, my command!" - seria algo como: Seu desejo é uma ordem - Você tem noção do que é isso na mão de um inconsequente? Sendo vítima muitas vezes de um golpe ou do poder que ele não está pronto para ter? - Mas, eles estão errados? Não. Eles compreendem (ou esperam) que você, mais uma vez, seja o responsável por suas escolhas, no entanto, isso é um prato cheio para os loucos de plantão. Como sempre digo aos meus filhos e clientes: Mantenha seus pés no chão e a sua mente leve como ar, mas jamais permita-se ser uma vítima da sede de poder, do ego e da vaidade. Essa é uma zona perigosa e você vai se lascar.
Conheço e atendi pessoas que foram para a Nigéria fizeram o que queriam, sem consulta prévia, e voltaram loucas, com o Ori descompensado, desequilibrado e totalmente dementes em suas atitudes.
Então, afinal, qual é o SEU Orisa dentro do Culto Tradicional Yorúbà?
Há muitas famílias que possuem o culto a um único Orisa. Normalmente essas famílias vêm de uma descendência direta de um Orisa, sendo simplista na minha explanação, são famílias que creem serem descendente de um Orisa que encarnou em aye, como Tela Oko, uma das encarnações de Sango. Logo uma grande parte dos membros daquela família serão todos cultuadores de Sango.
Há famílias que submetem seus descendentes a cumprirem com rituais de passagem, como o esentaye (o primeiro passo da criança na terra) e estas serão consagradas ao Orisa que se manifestar na consulta, assim como serão abençoadas com todos os elementos fundamentais da liturgia Yorúbà e os 4 elementos: Terra, Água, Fogo e Ar, dentro da cultura. ***Boas perguntas para este momento: Essas pessoas não se iniciam para mais nenhum Orisa? R: Muitas vezes não. Mas, em casos de necessidade podem se iniciar em Ifá Egungun, Egbe Orun, Ogboni e outras sociedades. Essas pessoas se iniciam em Ifá?
R: Algumas sim, outras não, e mesmo as que se iniciem em Ifá, o Orisa principal da vida dela continuará sendo o Orisa da tradição familiar, com raras exceções.
Mas se a pessoa tiver necessidades que aquele Orisa familiar não pode ajudar?
R: Esta é uma crença muito brasileira, pois para os yorúbà todo Orisa é completo dentro do conceito de prosperidade, ou seja, ele é capaz de prover a felicidade completa aos seus devotos, saúde, filhos, marido/esposa, vitória, vida longa, trabalho e riquezas em geral.
Mas essas pessoas fazem ebós para outros Orisa?
R: Claro! Não se esqueça que Esu, será sempre Esu. Qual a média de iniciações que um devoto de Orisa faz em Yorubaland?
R: Salvos os sacerdotes, que não entram nesta conta, ok? Iniciados em Ifá - De 2 a 4 iniciações em média Iniciados em tradições familiares - 1 ou 2, e talvez mais as iniciações ligadas às sociedades como Egungun, Ogboni e Egbe Orun.
Importante salientar que as famílias que não são descendentes históricas de um Orisa, acabam muitas vezes seguindo o Orisa de devoção do pai ou da mãe, aqui incluímos Ifá, ok?
No entanto é comum que em uma consulta, até mesmo na consulta iniciática ou no próprio esentaye, seja revelado a necessidade de devoção a um outro Orisa.
Vou usar o meu próprio exemplo, perceba como é complexo: Me iniciei em Osun no Candomblé. Fiz todas as minhas obrigações e Osun sempre respondeu com um belo Ose - odu que responde Osun - de primeira em 90% das minhas consultas. No entanto, quando me inicio em Ifá, ele diz que eu estava atrasada para fazer o Itefá e que eu já deveria ter me iniciado há muito tempo. O que aconteceu pós Ifá?Ifá organizou e "realinhou" a minha vida, depois de M U I T A S escolhas erradas e muit@s inimig@s me tirando do meu caminho, Ifá colocando me assim de volta ao meu caminho. Para que eu conseguisse cumprir, com o apoio de alguns Orisa, o meu predestino, minha missão aqui na Terra, Ifá determinou que eu me iniciasse em Obatalá, para a minha saúde, no entanto, na minha iniciação de Obatalá, Obatalá determina que eu me inicie em Yemoja para ter vitórias em minha vida e que siga cultuando Osun.
Agora eu te pergunto: O que seria o Orisa Primordial para nós do Culto Tradicional? Orisa primordial é aquele, ou são aqueles, que te equilibram, apoiando a sua vida para que você tenha a força para buscar todos os IRE (sorte, bênçãos) dentro do conceito yorúbà em sua vida, ou seja: Vida longa, saúde física e mental, filhos, marido/esposa, trabalho, honra, bons amigos, bênçãos e apoio dos seus ancestrais, vitória sobre os seus inimigos, sua casa, dinheiro, alegria e sucesso. Orisa primordial, para uma boa parte de nós que segue o Culto Tradicional (onde há Ifá e todos os demais Orisa) é aquele que você PRECISA, não o que você escolhe, ou com o que a sua personalidade se parece dentro da mitologia Yoruba. Esse Orisa se revela e se faz presente de uma forma sequencial e presente em consultas e ritos.
Para alguns esse Orisa pode ser Ifá, para outros Esu, Obatalá, Osumare, Oyá e até Egbe Orun. O importante é que as necessidades do seu Ori, tenham apoio para que você consiga cumprir a missão nesta vida com HONRA.
Portanto, Orisa Primordial, na Tradição Yorúbà, não tem a ver com estereótipos e sim com a sua necessidade ou com a sua linhagem familiar, esta última quando você de fato a conhece.
A busca por um sacerdote(isa) do Culto Yorúbà, seja Babalawo ou Olorisa, não deve ser feita apenas por curiosidade. É propriamente na consulta (o termo ideal é consulta e não jogo), que inicia-se o processo de resgate ao nosso pré-destino, ao processo de autoconhecimento, autocuidado e de melhoramento como ser humano, pois é justamente essa a função de todos os Orisa: Apoiar o Ori do seu devoto a conquistar o seu pré-destino com glória e a não permitir que ele se perca no caminho, mas sem jamais interferir no livre arbítrio.
Ressignificar Òrìṣà na vida é ser livre, é voar pelos desafios que SEMPRE existirão, com a certeza de que SE QUISERMOS ser melhores, não estaremos sozinhos.
Se você acredita que este texto pode fazer a diferença na vida das pessoas do seu meio: compartilhe! Se você acredita que ele pode fazer a diferença para alguém em específico: encaminhe para essa pessoa!
Não esqueci esse acordo: No próximo texto do MCA (Meu Coração Africano), vamos falar sobre o conhecimento básico de um omo Orisa e o que já passa a ser o departamento dos sacerdotes. Será o próximo! Agradecimentos que me deram vontade de fazer: Sempre aos meus pais por terem feito de mim a grande mulher guerreira que sou. Ao meu marido por ser a pessoa mais parceira do mundo e por me dar todo o apoio e suporte nos últimos anos. Ao meu professor, mestre, sacerdote - Oga -, Bàbá Maike Figueredo, por ler esse texto à 01h00 AM e me dar um retorno com ensinamentos para enriquecer o trabalho (a gente sabe o que é essa rotina de doido). A este sacerdote que me ensinou que sabedoria é um dos nomes que se dá aos Orí antigos, que não possuem idade cronológica, assim como me ensinou que a verdade na boca do maldoso é sempre uma mentira.
Créditos da Imagem: https://www.instagram.com/0kun_/
artista visual goiana okun.carbonmade.com contato.okun@outlook.com @cineclubekalunga contato 📥t.me/okunn0 Um coração agradecido é sempre maior.
Ọ̀nà’ re o - (Um bom caminho para você) Ìyá Ṣọlà Ẹgbẹ́kẹ́mi
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