Este comecinho de texto é um pouquinho chato, mas é bem importante você ler para compreender a mensagem.
Quem teve uma infância cristã, ou foi cercado por eles, já ouviu falar de algumas passagens bíblicas em que os ricos não são muito bem vistos, e até de apóstolos que abriram mão de toda a riqueza para viver na pobreza e que são glorificados por esta atitude, você também deve ter ouvido a famosas frases como: “Menina(o) presta atenção que dinheiro não nasce em árvore!” ou “O dinheiro é sujo” e ainda “Todo rico é desonesto”.
Resumindo, muitos de nós passamos por uma lavagem cerebral em que o dinheiro é algo para os outros, não para nós e muitas vezes ele é errado, difícil e pode até mesmo trazer desgraças.
Sabe onde todas essas informações estão guardadas? No seu inconsciente. Em uma pequena parte do nosso ORI, que vou chamar aqui de crenças limitantes.
Astutamente e estrategicamente algumas igrejas Evangélicas viraram a mesa e associaram a prosperidade financeira aos bons filhos de Jesus, ou seja, aos bons fiéis da igreja. A Teologia da Prosperidade afirma que é vontade de Deus que todo cristão seja rico, trata-se da Luz da Bíblia nos últimos anos, pois tem sido apregoada aos quatro cantos do mundo um ensino exagerado sobre a prosperidade financeira e sobre as posses materiais. Quanto mais próspera a pessoa é, trata-se de um sinal de que Jesus está ao seu lado, daquele que crê, quanto mais ela doa para a igreja, mais ela tem. Na verdade estão em busca da prosperidade em nome de Deus e não em busca de Deus para ter como consequência a prosperidade. O nome dos verdadeiros Deuses da nossa Era chamam-se Dinheiro e Poder. E não pense você que eu vou falar mal de ambos, pois acredito que dinheiro e poder podem sim ser muito benéficos na mãos certas.
E como tantos evangélicos têm conseguido de fato essa ascensão financeira?
Os pastores das igrejas trabalham dois princípios ao mesmo tempo:
A Fé e Crença em Jesus
O Trabalho das Crenças Limitantes - Ori
Ou seja, os evangélicos (pastores) trabalham os princípios que conhecemos como Ori. Mas todos conseguem o sucesso? Não. Porque eles não trabalham outros princípios básicos que trabalhamos dentro do Culto dos Orixás.
E a Igreja Católica o que fez para se renovar e acompanhar esse movimento e não perder fiéis? Nada ou quase nada. Isso foi certo ou errado? Tenho duas opiniões sobre isso, uma política e outra espiritual e ambas não se entendem.
Aí alguém aí do outro lado vai se perguntar, mas porque grande parte de Yorubaland é tão pobre, e estamos falando aqui lendo sobre Prosperidade Yorúbà? Vamos apenas relembrar que estamos falando de um povo que enfrentou muitas guerras, que foi colonizado e escravizado durante séculos. Uma nação que ao ser escravizada perdeu uma enorme parte da sua mão de obra masculina e que apenas conquistou o título de República Federal da Nigéria em 1960, estamos falando de uma nação criança de 57 anos. Em que hoje a economia avança em um ritmo lento e em que o Boko Haram passa a ser um impedimento para o progresso. Sem esquecer que uma grande parte na Nigéria é muçulmana, então eu peço para que a falta de informação não permita que as pessoas rotulem Yorubaland como o povo que cultua Deuses que os deixaram na pobreza e na miséria. Nada e nem ninguém, nem mesmo Eledumare, tem o controle sobre tudo.
E por favor não se esqueça que não adianta ser como o Brasil, com tantas riquezas naturais, fazer parte de uma minoria enquanto estamos em meio a dezenas de milhões de miseráveis. Como diz um irmão meu: “O coletivo está acima do individual, uma pessoa só é realmente próspera quando o maior número possível de membros de seus círculos está bem”.
“Somos todos pobres naquilo que não temos”
A maior dádiva que o povo Yorúbà nos deixou e nos presenteia é o inconsciente que tomou corpo e voz, a FILOSOFIA, fruto de todas as guerras, rebeliões, sofrimento, dificuldades, perdas e privações. Pois foi através de toda essa penosa história que toda a ancestralidade os tornaram um povo que respira RESISTÊNCIA. E quando aqui eu escrevo resistência, essa palavra precisa vir carregada de autocontrole, de estratégia, de superação dos limites, de criatividade para sair de situações vitais, da integração e da busca de força no TUDO que eles tinham, a natureza e a espiritualidade. Resistência física, emocional, material e espiritual. A luta pela vida.
E o que é toda essa força, se não são os Orixás?
Então o que seria a Teoria da Prosperidade para o povo Yorúbà dentro de uma visão atual?
A consciência do poder de Ori e a sua devoção
O caráter - Iwá
O trabalho de identificação das crenças limitantes e a eliminação delas através do autoconhecimento
O cumprimento dos Ewós
A Preparação nos Estudos Acadêmicos (Estratégia)
O Trabalho, o trabalho e o trabalho
O Foco e a Determinação
A Dedicação de dar sempre o melhor de si
A Resistência e resiliência nas dificuldades
A Responsabilidade para com o dinheiro (Não fazer compromissos com o dinheiro acima do que se ganha)
A inteligência com o dinheiro (Poupar e Investir) - Investir não é um bicho de quatro cabeças como muitos pensam.
Ver o dinheiro como uma consequência, um aliado e nunca como um escravo ou Deus
A Fé e devoção aos Orixás para o fortalecimento próprio e da família, o cuidado com a segurança, com saúde e com a expansão de Ori para sempre escolher o melhor caminho.
O dinheiro trás a satisfação, realiza sonhos e desejos, trás consigo muitas vezes uma noite bem dormida e o tesão em viver. A falta dele em nosso tempo causa todo o oposto e inclusive a sensação de fracasso e depressão. Mas quem sabe o que é Orixá, vive e conhece a sua filosofia, não se entrega.
Prosperidade financeira é algo que se conquista, que é construído como uma casa, que pode ser lento, que pode demorar anos, mas que precisa de bases sólidas e edificação, não existe milagre. Até mesmo um herdeiro ou um vencedor de loteria pode ficar pobre se não souber quais são os princípios Yorúbàs da PROSPERIDADE.
O importante não é o que nós temos, e sim o que nós fazemos com o que temos; a prosperidade pode passar pelo uso do dinheiro para uma vida confortável e a generosidade é uma virtude; distribuir alimentos e água é uma dádiva, ainda mais sabendo que os deuses comem pela boca dos homens.
O meu nome de Ifá em português é Ifá Me Fez Próspera. Hoje entendo e compreendo que preciso trabalhar todos esses passos acima para alcançar a prosperidade e que ela não virá divinamente ou magicamente, e que mesmo que Orunmilá tenha dito que serei próspera, jamais serei se ficar sentada esperando ela chegar e não seguir passos sólidos e que exijam de mim muito mais que um Odu. É auto-ajuda? Não. É Atitude, é melhorar- se e desafiar-se e conhecer de fato os seus próprios limites.
ALGUNS dos Orixás que estão ligados a esta Prosperidade e podem ao ser cultuados despertar em nós os predicados em nossos Oris
Ori - “A cabeça de uma pessoa faz dela um Rei” - Provérbio Yorúbà.
Ogum - O Trabalho, Força de Trabalho, Foco e Estratégia
Oxum - Aquela que através de seu espelho nos ajuda a nos conhecer melhor para que conheçamos os nossos limites.
Exú - O Comércio, o Dinamismo, a Ordem e a Organização
Ajê - As boas oportunidades, a organização e a responsabilidade com o dinheiro
Yemonjá - Motivação para lutar pela vida.
Ancestralidade - Para desfazer antigos pactos
Ibeji - Acalma o sofrimento material
Egbé - Para que os amigos espirituais nos ajudem para a nossa integração e pertencimento na sociedade seja próspera.
Todo este texto é baseado em princípios e ensinamentos que aprendi e aprendo em minha família espiritual, não trata-se de um conceito absoluto em Terras Yorúbàs.
Ọ̀nà’ re o - (Um bom caminho para você)
IfáṢọlà Sówùnmí - Fernângeli Aguiar
Fontes Orais
Bàbálórìsà Ifáseun Sówùnmí - Fernando Aguiar - Sacerdote do Templo de Orixás Egbé Áiyé
Bàbálórìsà Adesiná Síkírù Sàlámì - Babá King - Sacerdote do Oduduwa Templo dos Orixás.
Rodrigo Ribeiro Frias - Filho do Oduduwa Templo dos Orixás. Integrante e atuante há 20 anos na RTY. Atualmente cursa o Doutorado em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da USP.
Imagem: Pinterest
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